Slim, o batera

Cê lembra de “Gimme Gimme Gimme“, né?

Quem gosta do som do passado, vai saber que esta foi uma das faixas mais badaladas do excepcional “Voulez-Vous”, sexto disco de estúdio do ABBA, lançado em 1979 e que foi permeado por melodias, entre o sentimentalismo de “Chiquitita” e o agito discotheque da faixa-título.

A tal faixa em questão, cujo clipe mostra o quarteto sueco em ação no estúdio, com os deliciosos floreios do teclado de Benny Anderson (que inspirou até Madonna) e a imagem do trabalho de engenharia de som e melodia dos músicos na função.

E repararam no baterista? Em poucos closes, calmo e discreto na função, sem chamar muita atenção. Aquele cara não era só músico, o pé direto dele fazia bem mais do que percussionar o bombo do conjunto. Ele acelerava, mesmo que parecesse um misto de amadorismo e seriedade nas pistas.

E essa proximidade com os quatro suecos, sobretudo Bjorn Ulvaeus, que levou o ABBA a F1, da forma mais improvável possível e com direito a ponto improvável e tudo. Uma daquelas histórias que um amante do Lado B da categoria nos reservam de especiais.

Karl Edward Tommy “Slim” Borgudd, o dono deste verdadeiro conto do vigário, talvez seja mais lembrado como o dono do carro mais musical do grid, sobretudo naquele 1981 tão nebuloso. Depois de algum destaque no automobilismo escandinavo, deu um passo além e achou uma vaga na alemã ATS naquela temporada. Mas cockpit pagante sempre vive no limite da navalha da grana.

Dada sua amizade com Ulvaeus, Borgudd levou a logotipia do ABBA para os sidepods do HGS1. Ele assumiu o cockpit do carro do GP de San Marino até o fim da temporada, alternando algumas passagens escondidas a vários abandonos. Isso sem contar o improvável: o sexto lugar no GP da Inglaterra, em Silverstone, o primeiro ponto sueco desde as mortes de Ronnie Peterson e Gunnar Nilsson, em 1978.

Ele ainda faria uma corrida pela Tyrrell, em 1982, arrancando um sétimo lugar em Jacarepaguá, mas só. Depois disso, enveredou por várias competições e até correu, com relativo sucesso, com caminhões. Mas aquela marca indelével da música naquele ATS foi sua história mais intensa, entre a velocidade e a música.

E velocidade e música é uma combinação natural por vezes: Elio de Angelis deslumbrava no piano, Damon Hill tocava guitarra, Eddie Jordan arranhava bateria e Jacques Villeneuve chegou a gravar CD nos anos 2000. E do lado de fora do muro, George Harrison, amante do mundo dos bólidos, fez de “Faster” um hino da F1 (esse sim!).

Slim Borgudd nos deixou por esta semana, aos 76 anos, vitima das complicação do mal de Alzheimer. É a vida, mas como sempre digo: quem escreve história nestes anos tão competitivos da F1, merece palmas… e um pouco de musica também, claro.

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