F1 2023 (Resenha | Áustria): Punições a granel e o apetite de Max na casa dos touros

Enquanto escrevo isso, posso dizer que corro o risco de ser punido por ultrapassar os limites da crítica, pois os da pista já devem ter esgotado a cota. Num fim de semana comum (ou quase, salvo as boas brigas, distrativos ilusórios), o novo tento de Max Verstappen só perdeu, em números e raivas, para a sede insaciável das punições pelo famigerado track limits, outro ponto baixo da FIA neste ano.

De básico na pista, a sprint até foi movimentada (com água, gritaria e tudo), mas continua sua estrada de contrassenso dentro dos processos de classificação. Na corrida, os touros seguiram o domínio e o holandês presenteou a casa e a todos com mais uma vitória, permeada pela pura audácia de dar-se o luxo de botar borracha nova para roubar para si – no puro suco da competitividade – a volta mais rápida. Ele quer tudo e não deixa nada.

Na parte de trás, boas ultrapassagens, o bom desempenho da Ferrari e uma aguerrida corrida de Lando Norris, brigando na ponta e fazendo uma corrida muito consistente. Só não foi ao pódio pois a McLaren ainda carece de tutano para brigar com gente do naipe de Charles Leclerc (2°) e Sergio Perez (3°). O mexicano, enfim, fazendo algo mais além de figurar no meio do pelotão com jeito derrotado.

Mas fora tudo isso, não dá para se conformar com resultados definitivos vindos depois de horas por conta de análise de punições. Não é a celeridade (que é terrível, diga-se), mas o excesso, a forma como a categoria engessa a competitividade com medidas esdruxulas para garantir a “lisura” de uma volta ou de uma ultrapassagem. O regulamento prevê punir, mas não resolver o excesso, e todo excesso, como diz a boa mãe, faz mal.

Desta vez, como sempre, o fez e muito. Confusão de resultados, boas corridas anuladas e a passada de pano da FIA em mais um fim de semana enrolado e complicado nas salas da direção de prova. Nada que afete um determinado Verstappen e sua trilha rumo ao tri, com fome descomunal.

A onda laranja, na pista e nas arquibancadas, nada para Verstappen em busca do tri

Os 10 (Sprint)

1) Max Verstappen (Red Bull-Honda)
2) Sergio Perez (Red Bull-Honda)
3) Carlos Sainz Jr (Ferrari)
4) Lance Stroll (Aston Martin-Mercedes)
5) Fernando Alonso (Aston Martin-Mercedes)
6) Nico Hulkenberg (Haas-Ferrari)
7) Esteban Ocon (Alpine-Renault)
8) George Russell (Mercedes)
9) Lando Norris (McLaren-Mercedes)
10) Lewis Hamilton (Mercedes)

Os 10 (Corrida)

1) Max Verstappen (Red Bull-Honda)
2) Charles Leclerc (Ferrari)
3) Sergio Perez (Red Bull-Honda)
4) Lando Norris (McLaren-Mercedes)
5) Fernando Alonso (Aston Martin-Mercedes)
6) Carlos Sainz Jr (Ferrari)
7) George Russell (Mercedes)
8) Lewis Hamilton (Mercedes)
9) Lance Stroll (Aston Martin-Mercedes)
10) Pierre Gasly (Alpine-Renault)

Emoções na sprint, com estranhamento entre companheiros na casa dos touros e surpresas. Culpa da chuva, e fora isso, nada mais que punições

Pilotos:

1) Max Verstappen (229)
2) Sergio Pérez (148)
3) Fernando Alonso (131)
4) Lewis Hamilton (106)
5) Carlos Sainz Jr. (82)
6) Charles Leclerc (72)
7) George Russell (72)
8) Lance Stroll (44)
9) Esteban Ocon (31)
10) Lando Norris (24)

Construtores:

1) Red Bull-Honda (377)
2) Mercedes (178)
3) Aston Martin-Mercedes (175)
4) Ferrari (154)
5) Alpine-Renault (47)
6) McLaren-Mercedes (29)
7) Haas-Ferrari (11)
8) Alfa Romeo-Ferrari (9)
9) Williams-Mercedes (7)
10) Alpha Tauri-Honda (2)

Enfim, um fim de semana positivo para Perez: boas brigas e um terceiro lugar, apesar das perturbações continuarem

Destaque: Lando Norris (McLaren)

A gente sabe que a fase da casa de Woking não é a melhor de todas. Em vezes, o corpulento Zak Brown tem trocado a pista pelas redes sociais, por iniciativas de mídia que parecem reverberar uma equipe poderosa. Isto bem diferente da realidade que pilotos e time passam para levantar a temporada e buscar melhores resultados.

Mas, em momentos, os brilhos vem, e eles merecem nosso olhar. Entre as brigas dos primeiros, Lando Norris fez do nono lugar conquistado na água da sprint um bom lucro no frigir final dos ovos. Foi combativo, aproveitou a “igualdade” que a pista deixa transparecer e teve momentos brilhantes, como a briga olho-no-olho com Lewis Hamilton. Esta, ele levou de boas, merecia até mais.

Combatividade: se a McLaren precisa de pistas que a igualem ainda, Norris aproveita bem a chance. Uma boa prova do jovem inglês

No fim, a coleção de punições distribuída a granel acabou por premiar o jovem inglês. Um ótimo quarto lugar que merecia pódio. E mesmo que a gente saiba que o bom desempenho da McLaren é o típico brilhareco de um ano complicado, estes momentos inspirados do pequeno Lando merecem palmas, enquanto Oscar Piastri aprende.

Ainda há esperança na McLaren? Essa fica para você, amigo leitor.


As equipes

Red Bull: Correndo em casa, o esperado era mesmo uma prova entre a tranquilidade e a correria. Tranquila pela parte de Verstappen, naturalmente, dominando quase de ponta-a-ponta (perdendo a liderança para Leclerc em um breve momento das paradas no box) e ainda dando-se ao luxo de buscar a melhor volta com borracha nova no finzinho da prova. Quanto a Checo, enfim, um pódio depois de tantas figurações sem brilho e vexames dignos de uma mente perturbada.

Ferrari: Um bom dia para Maranello na Áustria. Com a presença de John Elkann – um dos CEO da marca – nos boxes, prova-se que o empresário é pé quente quando o time precisa de bom resultado. E foi dito e feito: Carlos Sainz teve uma das melhores (senão a melhor) performances do ano, com boas brigas, mas acabou ceifado pela horda de punições. Leclerc conquistou um bom pódio, um segundo lugar para respirar fundo.As coisas parecem estar acertando-se, mesmo que ilusoriamente falando.

McLaren: Um grande dia para Lando Norris, que aproveitou o aparente nivelamento com os adversários e fez uma prova combativa, brigando olho-no-olho com o compatriota Hamilton. Voltou com um quarto lugar no bolso, beneficiado pelos track limits dos outros. Foi o destaque do time na pista, enquanto Piastri, como sempre, fez figuração, mas segue aprendendo.

Aston Martin: Aparentemente, numa pista que aproxima algumas equipes das outras, a casa de Lawrence parece ter perdido o bondo, num fim de semana muito apagado, o pior do ano. Alonso esteve sumido em grande parte da prova, mesmo chegando em quinto lugar, mas sem brilho algum. Stroll também faturou seus pontos, minimos é claro, e só. Os sinais mostram que é preciso mostrar atualizações concretas antes que o sonho de um bom ano fique no primeiro semestre.

Um bom dia para Leclerc: corrida segura e um ótimo segundo lugar sob os olhares do CEO da casa de Maranello
Um dia apagado para Alonso na Áustria. A “quase igualdade” de desempenhos expôs a necessidade de atualizações da Aston Martin?

Mercedes: Sim, teve climão no rádio, mesmo que todos os panos quentes vieram depois. É a velha máxima que este escriba vem batendo na tecla o tempo todo: não basta mudar sidepods, atualizações deste tamanho mexem fortemente com projetos, para o bem ou para o mal. E na falta de melhor ideia, Hamilton dá as diretas no rádio e toma a resposta de volta. No fim, as punições derrubaram o multicampeão para atrás de George Russell, num fim de semana bem ruim para os anglo-alemães.

Alpine: A maior arrecadadora da distribuição em massa de punições do fim de semana. Chega a ser ridículo, mas talvez não seja, de todo, culpa dos denodados garotos franceses, ou pelo menos de Esteban Ocon, que saiu com a carteira fuzilada em – acredite – 30 segundos de punições somados. Gasly ainda arrecadou um mísero pontinho na prova, o pífio lucro de um fim de semana mais avermelhado que caderneta de colegial.

Alfa Romeo: Ao menos, a casa suíço-italiana pode se vangloriar que chegou ao fim da prova sem ser acertada pela maquina de punições. Mas é pouca glória para tanto. Zhou e Bottas passaram o fim de semana sumidos, aparecendo pouco a não ser nos momentos de serem suplantados pelo pelotão da frente. Chega a ser feio o marasmo da equipe em 2023 e nada mudou aqui.

Williams: Outro time vitima da saraivada de punições, a turma de Grove não saiu sorrindo, desta feita, do Red Bull Ring. Alex Albon até tentou, andou entre os primeiros depois de se classificar bem, mas não se pode fazer milagres o tempo todo, sobretudo numa pista que iguala muito os desempenhos. Logan Sargeant, como sempre, foi um figurante entre a multidão.

A chuva de punições encontrou terreno fértil em Ocon: 30 segundos, somando todas as advertências recebidas durante a prova
A Haas segue a trilha dos brilharecos em treinos. Na sprint, Hulkenberg foi bem, e na corrida parou cedo

Haas: É notório para qualquer um que Guenther Steiner e seus comandados devem ter captado que a mídia, mesmo, reside-se em brilharecos nos treinos, sobretudo em corridas-sprint malucas como fora esta. Foi assim que Nico Hulkenberg, outra vez, se apareceu bem e somou alguns caraminguás. Mas na prova, outra vez, ambos sumiram na rabeira, contando ainda o abandono do próprio Nico antes da metade inicial da prova. Realmente, vale mais a pena brilhar no treino.

Alpha Tauri: Digna do papel de lanterna do campeonato, a casa B da Red Bull aguarda a reestruturação se divertindo como pode. Tsunoda passou reto na primeira volta e foi o ultimo dos que completaram a prova, atrás até mesmo de um opaco De Vries, mera sombra do feito que protagonizou no ano passado. Em desempenho, o time já está devendo para a Williams, e nada parece apontar uma melhora para este ano ainda. Lamentável.


Enfim, espera-se que, ao menos, no berço da categoria não se tenha uma festa de track limits como a vista na Áustria. Um sistema patético e burro que precisa ser revisto para não minar e frustrar o espetáculo como o foi nesta feita. Mas, se esperar a dona FIA se mover, ainda veremos outros mil momentos baixos como este na temporada.

E como disse, a próxima parada é lá mesmo: um fim de semana bem britânico em Silverstone, num dia de muitas festas. Até mais ver!

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