A estatura de um ícone

Silvio Santos morreu. É difícil assimilar a perda de um ícone. Sabemos que antes do Silvio Santos havia uma pessoa de carne e osso, e de já longeva idade, carecia de cuidados e tinha a saúde frágil.

Sua onipresença nos lares do Brasil aos domingos por mais de meio século cimentaram no imaginário de todo um povo a criação de uma entidade e ao mesmo tempo alguém análogo a um parente próximo.

O Brasil tem essa tendência de formar ídolos com base no que o indivíduo representa. Silvio representava o sucesso e o carisma. Sua idolatria é justificada por conta da sua trajetória de vida e por transformar coisas simples em grandiosas. Afinal, ele tinha a capacidade de transformar músicas compostas com uma estrofe e uma única sílaba em verdadeiros hinos dominicais.

A televisão no Brasil divide com ele toda uma história de sucesso, onde Silvio tem seu papel protagonizado por ser visionário e pela sua grande estatura como comunicador.

Confesso que há algum tempo já havia me despedido intelectualmente. Sim, para mim Silvio era íntimo, apesar de que, como muitos brasileiros, não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Mas o considerava próximo por conta da gentileza que ele me oferecia: era o pano de fundo de agradáveis encontros com a família, em frente à televisão.

Ligar a Tv aos domingos para assistir nem que fosse um pequeno trecho de seu programa era um experimento. Era assistir a história que foi feita ao longo de tantos anos e que carregava toneladas de saudosismo e nostalgia.

Após sua recente ausência, eu mesmo tratei de assimilar o fato de que muito da alegria que estava ali imposta era acompanhada de sacrifícios e uma abnegada tentativa de suplantar o tempo que teimava em cobrar esforços. Preferi ficar com as imagens do passado, de tantas vezes em que ele conseguiu me entreter.

Sempre torci pelo SBT. Sou grato ao fato de que o canal foi meu amigo de infância. Imagino quantas pessoas compartilharam da companhia dos desenhos, muito bem escolhidos por ele próprio e que fizeram toda uma geração aprender a gostar de bons conteúdos. Mais tarde, ele próprio colocou na programação um material repleto dos melhores estúdios americanos, seja com filmes ou os próprios conteúdos infantis, e ainda os grandes achados como por exemplo Chaves e Chapolin, que de desacreditados tornaram-se ícones cultuados por toda uma nação.

Irônico imaginar que o dia seguinte à sua partida foi o primeiro domingo em mais de sessenta anos que ele não fez parte da programação. Nasceu um mito. E ficou o legado para suas filhas e família manterem vivas a imagem de uma verdadeira propriedade intelectual da história da comunicação do Brasil.

Silvio transcendeu o tempo. Sua história permanece. Só os ícones fazem isso.

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