Quando olhamos o mundo atual da Fórmula 1, vemos no grid 20 ases que, rigorosamente, são definidos como profissionais. Isso inclui tudo aquilo que muitos conhecem, como um rigoroso treinamento físico para suportar o desgaste que é pilotar os carros, um extenso treinamento midiático para tratar com a imprensa e patrocinadores, bem como um zelo pela própria imagem. E, claro, entra nessa conta a habilidade de pilotagem. Afinal, ninguém se sustenta no circo apenas com uma boa imagem.
Mas isso tudo suscita uma pergunta: quem foram os ases em eras passadas que “pavimentaram o caminho” do perfil de um piloto profissional? Nosso comitê editorial do G&M analisou os nomes que definiram o profissionalismo em cada uma das décadas na categoria, e eis aqui o resultado. Se você, amigo leitor, acha que outros volantes podem entrar, sinta-se á vontade para adicionar nos comentários!
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1950: Em uma era onde tudo era bastante embrionário e ainda beirava o improviso e o amadorismo, poderíamos citar John Cooper e a revolução do motor colocado na traseira, mas o nome mais preponderante fica sendo o de Jack Brabham. O australiano foi o primeiro (e até hoje um dos poucos) a pilotar e construir o próprio carro e ter uma carreira exitosa nisso. Além do mais, a operação construída por ele, entre idas e vindas, durou mais de 30 anos, o que por si só já é um feito na história da categoria.
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1960: Aqui chegaram dois nomes que trouxeram pontos importantes, ambos na Lotus. Jim Clark entrou no rol graças à referência pela pilotagem com uma precisão que virou um norte para as gerações seguintes, não só pela plasticidade e precisão na tocada, mas pela constância de resultados. E tanto ele quanto Jochen Rindt se tornaram os primeiros pilotos a “simbolizar” uma equipe, mantendo uma relação bastante próxima com Colin Chapman a ponto de não dissociarmos o time de seus volantes.
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1970: Naquela que é considerada a última década da “F1 romântica”, três ases se destacam. Jackie Stewart poderia ser lembrado pelas incríveis 27 vitórias em 99 corridas, mas é sua cruzada pela segurança no grid que o alça um degrau acima no profissionalismo. A troca dos fardos de feno pelos (então seguros) guard rails, o capacete fechado, a briga com a organização dos GPs pelos comissários mais capacitados, atendimento de emergência mais célere… tudo isso veio de “Sir Jackie”.
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O maior rival do escocês naquela década também trouxe avanços capitais. Emerson Fittipaldi foi o responsável (em um estágio embrionário, claro) pelo cuidado com a forma física como parâmetro, não sendo raro ver registros dele praticando corridas pelo autódromo na semana do GP. Além disso, também foi um dos pilotos mais preocupados com a vida, uma vez que já tinha um rol de médicos particulares gabaritados sempre de prontidão para agir em caso de acidente (ortopedistas, cirurgiões, neurocirurgiões, etc). Ademais, também vieram do “rato” os primeiros tratos para com a imprensa nacional (quiçá estrangeira), não só no quesito publicitário, como também em testes para revistas automotivas, que colocaram a F1 no imaginário do “país do futebol” e estreitaram a ligação dos pilotos com o segmento automotivo.
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E fechando a tríade desta década, não poderíamos esquecer de Niki Lauda. O austríaco se tornou um modelo de trabalho junto à equipe, auxiliando diretamente no aprimoramento dos bólidos. Só o fato de ter tirado a Ferrari de um jejum de 11 anos já mostraria o exímio esforço dele junto à esquadra de Maranello no desenvolvimento do carro. Passagens como as retratadas no filme “Rush”, onde ele criticou de forma contumaz as 312T e brigou com o time para melhorar o carro, mostram isso. Inclusive, sua trajetória como “engenheiro honorário de F1” se tornou uma referência para, por exemplo Nelson Piquet, de quem Lauda seria grande amigo posteriormente.
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1980: Os turbos, os carros-asa e a crescente eletrônica trouxeram a reboque toda uma mudança de paradigma na figura do piloto. E aqui ninguém soube (re)interpretar tudo isso tão bem quanto Ayrton Senna. O brasileiro virou referência em cuidado com o físico, aprimorando o que Fittipaldi fez na década passada e emulando algo que hoje vemos, por exemplo, com Cristiano Ronaldo no mundo do futebol, tendo um preparador próprio (Nuno Cobra), programa alimentar específico, entre diversos outros pontos. Em paralelo, ele replicou o que Lauda fez com a Ferrari, porém na operação da Honda na McLaren, trabalhando de maneira bastante estreita com os nipônicos. Este desenvolvimento rendeu três títulos de pilotos e de construtores (além de desavenças renhidas com o então companheiro de equipe Alain Prost). Tais resultados são o “plus” de uma tocada particular, que casou perfeitamente com aquela década (e o início da seguinte), a exemplo do que Clark fizera duas décadas antes. O uso magistral do punta-tacco, as “patadas” no acelerador e o manejo preciso do câmbio (ainda) manual o colocavam numa vantagem clara frente aos rivais.
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Senna também virou uma referência na questão publicitária, se tornando garoto-propaganda de várias marcas mesmo quando não era campeão, fazendo também diversos testes para revistas de carros do Brasil e do exterior. Foi ainda o primeiro modelo do “piloto-empresário”, desenvolvendo e aprimorando uma marca própria, diversificando e expandindo negócios em várias áreas e aderindo ao ramo da filantropia com seu instituto.
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Numa outra ponta, o companheiro de Senna na Lotus em 1985, Elio de Angelis também merece ser citado. Não tanto por resultados (ainda que, pela constância destes, tenha sido desafiante ao título de 1984), mas principalmente por ter revisto e ampliado a figura do piloto-pagante (ou “pay driver”). Até então, o piloto que literalmente “comprava” um assento numa equipe era tipo um cara fraco de resultados, às vezes um mero “filhinho de papai” aventureiro que caía de para-quedas em uma operação para se divertir. De Angelis mostrou que, por mais que tivesse “adquirido” as cadeiras em Shadow, Lotus e Brabham, fazia por merecer com desempenhos de determinada constância, especialmente em tempos onde quebras mecânicas eram tão comuns.
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1990/2000: A década seguinte e a virada do milênio foram praticamente o caminho já pavimentado pelos nomes citados de tempos anteriores. Porém isso não quer dizer que não vieram nomes importantes no período. O que dizer, por exemplo, daquele que foi o maior “relações-públicas” enquanto piloto no grid, vulgo David Coulthard? O escocês, a despeito do belo capacete e de um punhado de vitórias, poles e um vice-campeonato mundial, nunca figurou no olimpo da categoria. Entretanto, quando o assunto é mídia e publicidade, ninguém soube “se vender” tão bem quanto ele, capitalizando o que outros pilotos fizeram e se tornando um modelo a ser seguido tanto dentro, quanto fora das pistas. E segue o sendo depois da aposentadoria! Afinal, continua ativo em emissoras e em programas de TV e dentro da própria categoria como comentarista e exímio entrevistador.
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E se citamos Senna nos anos 80, não podemos esquecer de Michael Schumacher, que sendo declaradamente fã do brasileiro, lançou tudo que este fez a níveis estratosféricos. Definido por chefes e engenheiros como “quase um robô”, tamanha a determinação e foco no que fazia, não é raro encontrar registros do alemão testando as Ferrari até quase não haver mais luz em Fiorano (e nisso ele era ainda mais obstinado que o brasileiro, que não abria mão de férias entre as temporadas), assim como é notório que ele replicou Niki Lauda (a quem ele também tinha como referência) ao concentrar esforços junto a todo o time para encerrar um jejum de títulos que durava 21 anos e que foi coroado com o penta consecutivo de 2000 a 2004. O trato do teutônico para com a imprensa e a publicidade também era notório (ainda que não tão “vendável” como Coulthard fazia), rendendo peças memoráveis de parceiras de Maranello, como a Shell.
Claro que nesta mesma década (e nas posteriores) vimos nomes de grande profissionalismo surgindo, como Fernando Alonso, Sebastian Vettel, Lewis Hamilton e Max Verstappen.
Porém não é exagero dizer que eles seguiram na estrada que estes nomes criaram.
Até a próxima!
Pedro Ivo Faro por… Pedro Ivo Faro!
@p.f.4736 – Instagram – Jornalista vascaíno, fã de jazz, viciado em café e apaixonado por qualquer coisa que tenha motor e ande rápido. Sou membro do G&M mais ligado em carros de rua, ajudando tanto nas editoria de esporte a motor quanto nas experiências que vivemos nas ruas e avenidas. Com a experiência de quem trabalhou – e trabalha – no setor, sempre trarei novidades por aqui!