Olá Amigos do G&M! Eis a quinta parte do Documento Ímola chegando, a segunda dentro dos movimentados anos 1990. E essa parte é de um recomeço dolorido, cheio de dúvidas e com um enorme vazio que ficou para o automobilismo brasileiro. Felizmente, no fim dessa coluna, a lufada de esperança surgirá para todos nós outra vez.
Tradição da coluna DNQ, (já podemos chamar de tradição não é?), o piloto que não passou da classificação em 1989 dessa edição é Yannick Dalmas!
Dalmas lutou bastante, mas ficou a 0.2s de seu companheiro, com o tempo de 1.31.260, o também francês Phillipe Alliot, e a 5.958s do Pole Ayrton Senna, sendo o primeiro não qualificado para a prova inicial da temporada de 1989.
Tradição mantida, vamos aos anos de 1995 até 1999, anos de recuperação lenta do baque da F1 em território italiano
1995: Retorno ao palco que marcou a história da F1
Data: 30/04/1995
Prova: 63 voltas, cada uma com 4.895 m;
Pole: Michael Schumacher (Benetton-Renault)
Vitória: Damon Hill (Williams-Renault)
História para contar: A F1 voltava a Ímola exatamente um ano após todo o evento traumático de 1994. Vale frisar que a data da prova daquele ano foi criticada internamente pelos dirigentes por trazer emoções que consideravam desnecessárias.
O pai de Roland Ratzenberger, Rudolf, fez uma homenagem ao filho na curva Tosa, juntamente com Nick Wirth, o dono da Simtek. Completava-se um ano exato da morte do austríaco e no mesmo dia, Viviane Senna – irmã de Ayrton Senna – recebeu diversas homenagens e inaugurou o busto de Ayrton colocado na região da agora antiga Tamburello, substituída por uma chicane depois da falta de espaço para a construção de uma área de escape maior.
O local é um santuário até hoje. Cheia de homenagens, cartazes e materiais ligados ao tricampeão. Mas o “show deve continuar”, diria Bernie Ecclestone, e a F1 tentava retomar à normalidade. Vamos aos pontos principais daquele fim de semana, onde Ímola se mantinha como abertura da temporada européia da F1.
A F1 vinha com uma polêmica no ar desde o GP do Brasil: A desclassificação de Michael Schumacher e David Coulthard em Interlagos depois das irregularidades com o combustível da tradicional Elf. Neste fim de semana ocorreu uma reunião entre as petrolíferas presentes no grid (inclusive a Shell, que após o fim de contrato com a McLaren, estava fora do grid), onde tudo acabou sem qualquer acordo e rachou as fornecedoras: Shell, Mobil, BP e Sasol alinham com a FIA enquanto Elf, Total e Agip reclamam da mesma. E a briga só iniciava.
Após algum tempo Guy Ligier aparece no paddock, e o nome Ligier esta envolto em várias polêmicas: Após ser vendida para Flavio Briatore e Tom Walkinshaw, o antigo orgulho francês virou um terreno inglês e isso estava desagradando os patrocinadores. Além disso, a equipe andava com o motor Mugen/Honda nesse ano e estava sendo acusada por Giancarlo Minardi de golpe ao pegar o leasing dos motores japoneses para si. A Minardi já tinha tudo pronto para receber os Mugen, e perdeu material, dinheiro e tempo, ficando com os velhos Ford Cosworth no fim das contas.
Somado a isso, o JS41 é cópia-carbono do Benetton B195 e a equipe tinha três pilotos sob contrato para dois cockpits: ao que parece, Olivier Panis está garantido, já Martin Brundle e Aguri Suzuki reivindicam o segundo carro. São dias movimentados na equipe bleu-blanc.
Ausente desde o começo do ano, a casa de Gerard Larrousse até se inscreveu para o evento, que seria o seu primeiro no ano para eles. A equipe pretendia fazer a primeira prova com Christophe Bouchut e Eric Bernard. Só havia um pequeno problema: Simplesmente eles não tinham um motor para pôr nos carros! Com dificuldades de pagamento na Simtek e na Pacific, o diretor de competição da Ford, Paul Gillitzer, não liberou os blocos Cosworth ED V8 para o time francês.
Em paralelo a isso, o tribunal de Toulon decreta: ou a equipe paga suas dívidas (na casa de US$ 15 milhões) ou ela está condenada. Espera-se para breve um aporte financeiro da malaia Petronas, que exige no contrato que a Larrousse vá a pista para efetivar o compromisso. E o time não pode ir a pista pois não tem dinheiro para pagar os motores. O fim é próximo.
No fundo do grid, as rotineiras novidades, mesmo que venham do corredor do hospital: Andrea Montermini, que estava na Pacific, teve uma crise de apendicite semanas antes da prova e parecia estar fora de combate. A equipe então consulta Bertrand Gachot para substitui-lo e este indica a volta de Paul Belmondo, que assim como Gachot, teve a honra (irônica) de pilotar os PR01 em 1994. Conhecia a casa, os mecânicos, chegaria sem maiores problemas.
Belmondo inscrito, banco moldado e na sexta de manhã aparece… Montermini! Ele de laudo na mão, Sid Watkins o liberando e pondo o contrato na mesa. Belmondo vai embora do autódromo furioso, dizendo que, para ele, a F1 acabou. Como se diferença fizesse ter no grid o filho de uma estrela do cinema mas conhecido (ou desconhecido) pela fraqueza em pista.
Já na Forti Corse, Roberto Moreno voltava à F1 após a aventura da Andrea Moda em 1992, e corria o Paddock com uma missão: sem dinheiro para fazer a temporada completa ao lado de Pedro Paulo Diniz, o brasileiro oferece espaços no seu capacete por US$ 6 mil para quem souber de apoiadores ou quem quiser investir. Era o “saldão do baixo”, pura e simplesmente.
Ímola também marcou a estreia oficial de algo que a F1 juraria, há uns cinco anos atrás impossível. Pressionado para ter um piloto de nível nos seus carros e sem nenhum campeão no grid além de Schumacher, Nigel Mansell chega a McLaren. Ver Ron Dennis e o leão no mesmo pit é algo estranho a todos, e ocorre algo ainda mais complicado: Mansell simplesmente não cabe no cockpit, perdendo as provas do Brasil e da Argentina para ajustes no carro para tanto. Nos treinos na Itália, foram várias dificuldades e o inglês tomou tempo de Hakkinen o tempo todo.
A corrida
Como tem virado costume em Ímola, chove durante a noite e o warm-up foi feito em pista molhada. O traçado ainda estava úmido quando da largada da prova, com Schumacher à frente na primeira pole da Benetton-Renault, seguido por um empolgado Berger na Ferrari e pelas duas Williams de Damon Hill e David Coulthard.
Na volta 11, Schumacher acabara de fazer o pit para por pneus slick quando bate a mais de 200 km/h na Piratella. Ele abandona a prova e deixa Berger na liderança. Mas ao secar a pista, a Williams de Damon Hill se demonstrou melhor acertada e venceu a prova, ladeado no pódio pela Ferrari: Berger em segundo – mantendo a liderança do campeonato devido as punições de combustível de Schumacher e David Coulthard no Brasil – e Alesi em Terceiro.
Com isso, a semana de aniversário de Frank Williams, um tanto quanto bucólica, acabou tendo alguma alegria: a vitória que homenageia Ayrton Senna exato um ano depois da morte do brasileiro, sendo o tento 80 da historia da equipe.
1996: O projeto de renascimento da Scuderia de Maranello tem sangue alemão
Data: 05/05/1996
Prova: 63 voltas, cada uma com 4.892 m;
Pole: Michael Schumacher – Ferrari
Vitória: Damon Hill – Williams
História para contar: Em meados de 1993, a Ferrari iniciou um processo de remodelação interna que traria benefícios e marcas históricas para F1. Chegava na equipe um pequenino francês chamado Jean Todt, vindo dos quadros da equipe de rally e endurance da Peugeot, com o intuito de organizar a casa num trabalho conjunto com o tricampeão Niki Lauda.
Em 1996, Todt deu uma tacada ousada e do tamanho da Scuderia: Buscou a peso de ouro da Benetton o bicampeão mundial vigente Michael Schumacher para acelerar o processo de retomada às glórias e títulos da casa de Maranello. E neste fim de semana em Ímola, o sapateiro faria história: Em um momento que considero um dos mais marcantes de Ímola, o alemão marca a primeira pole position pela Ferrari, confrontando no braço as Williams de Damon Hill e Jacques Villeneuve.
É algo maravilhoso de ver, principalmente a passagem na linha e a explosão do publico no som ambiente. Ao fazer a Tamburello, após marcar a pole, Schumacher estranhamente rodou: a suspensão traseira esquerda quebrou 200m após marcar o tempo. Parecia combinado.
No paddock, o clima não era tão festivo assim: Havia um novo pacto de concórdia a ser assinado para ser validado a partir de 1997, e Bernie Ecclestone tinha um problema inglês para isso: Frank Williams, Ron Dennis e o resistente desde sempre Ken Tyrrell não assinam o documento, reclamando de jogo duplo de Ecclestone, que era o homem da FOCA (Formula One Constructor’s Association) durante anos, e que se tornou também cabeça pensante da recém formada FOM (Formula One Management). Ken Tyrrell em Ímola deixa claro que ele tem contrato assinado com a FIA (e Max Mosley corrobora a opinião do velho lenhador), que não vai se abater com isso e que está há 25 anos mostrando e apontando que Bernie não está ajudando as equipes. Já Ron Dennis e Frank Williams mantém a chama da discussão bem alta.
A F1 volta a ter um Villeneuve
A F1 volta a receber em 1996 um campeão da F-Indy, retomando o intercâmbio forçado desde a ida de Mansell para a Newman-Haas em 1993: Jacques Villeneuve chega a F1 com um belo status, de campeão da Indy 500 e campeão da temporada 1995. O que talvez seja estranho é ver o nome Villeneuve no santantônio da Williams e não da Ferrari. E Jacques experimenta a popularidade que seu pai deixara na Scuderia, e era tratado como um verdadeiro filho pelos tifosi. Williams aliás que estava sem seu projetista chefe: Patrick Head não compareceu em Ímola, justamente na esteira de que o inquérito do acidente de Ayrton Senna teria sido entregue com o seu nome como um dos indicados como culpados pelo acidente de 1994.
Uma nova marca de pneus e Benetton em crise
A Bridgestone anuncia que estará na temporada 1997 da F1, com um contrato já vigente com a TWR (Arrows), que inclusive cede um chassis para que possam desenvolver a borracha japonesa, porém busca pelo menos mais 3 equipes. As equipes de fundo de grid e a estreante Stewart estão na mira.
E na Benetton a crise impera: Após perder o bicampeão mundial, Flavio Briatore se vê com Alesi errando muito (inclusive largando com os pneus dianteiros bloqueados em Nurburgring) e Berger nitidamente abaixo do que passou em 1986 pela equipe e estava aguerrido na Ferrari um ano antes. O pingo da crise foi uma reunião entre Briatore, Ross Brawn, Rory Byrne, Jean Claude Migeot e Nick Wirth (sim, o ex Simtek) que teve de ser adiada pois Alesi não sabe ler em Inglês os documentos, tendo de serem traduzidos para o Italiano. Para completar o caos, surge ruídos que a Renault sairá da F1 ao fim do ano, deixando a Benetton sem parceira de motor.
Com a pole de Schumacher, Ímola após muito tempo volta a lotar. mais de 130 mil torcedores ocupam todo o espaço possível no autódromo, num ensolarado domingo. Porém Schumacher não larga bem e é visto que o “Dragster” Coulthard está de volta: O escocês sai de quarto para a liderança na chicane Tamburello. Durante a prova, com os pit-stops, a Williams de Hill retoma a liderança e Schumacher se mostra combativo, mas não o suficiente para impedir a quarta vitória no ano de Hill em cinco etapas (Villeneuve havia vencido em Nurburgring), e com isso mantendo a Williams com 100% de aproveitamento no ano. Era a primeira apresentação da era Schumacher na Ferrari no Enzo e Dino Ferrari.
1997: Um novo alemão surgindo? E a F1 em xeque pelo regulamento 1998.
Data: 27/04/1997
Prova: 62 voltas, cada uma com 4.930 m;
Pole: Jacques Villeneuve – Williams
Vitória: Heinz Harald Frentzen – Williams
História para contar: “Se os carros de 1998 foram ruins como testei, volto para os EUA!” A frase de Jacques Villeneuve, já na abertura da temporada européia de 1997, falando do novo regulamento de 1998, exemplifica o tamanho das mudanças que Max Mosley buscava para a F1, visando a maior segurança. E o medo de Mosley era evitar catástrofes como a de 3 anos antes na mesma Ímola. A categoria estava registrando casos de melhoria de até 6s entre um ano e outro, com as evoluções de chassis, aerodinâmicas e a guerra de pneus, com a entrada da Bridgestone na categoria.
E a frase de Villeneuve se deve a um dos fatos que mais irá impactar no desempenho dos carros: Após 26 anos, os F1 em 1998 voltariam a ter pneus com ranhuras, para diminuir o contato com o solo e com isso, diminuir a aderência mecânica. E não é só ele: Jean Alesi, um dos atuais veteranos da categoria, compartilha da opinião de Jacques.
O fiasco da Lola tem seu capítulo final
Em Imola, Eric Broadley anuncia definitivamente que a Lola está fora da F1. Após um DNQ em Melbourne, com carros montados às pressas e com peças diversas, a patrocinadora principal Mastercard abandonou o projeto, deixando Ricardo Rosset e Vicenzo Sospiri a pé. O piloto italiano inclusive esteve em Ímola buscando contatos para comprar a estrutura da equipe, sem sucesso. Essa talvez tenha sido a última historia da F1 nesses moldes.
Ferrari terminando reformulação técnica mas ainda longe do topo
A chegada da etapa de Ímola sempre renova as esperanças dos Tifosi, porém em 1997 a situação técnica da equipe é bem delicada: Após apenas um segundo lugar de Irvine na Argentina (pressionando Villeneuve, seja dita a verdade) e um segundo lugar em Melbourne e um distante quinto lugar no Brasil, a Ferrari sabia que o modelo F310B estava ainda distante da Williams.
E Jean Todt deixa claro isso, falando à imprensa: “Se não largarmos na segunda fila, não há qualquer possibilidade de triunfo”. Porém, Todt está cada vez mais próximo da estrutura que ele vem buscando: Em uma Ferrari cada vez mais mundial, com a chegada de Ross Brawn e Rory Byrne da Benetton a pedido de Schumacher (e a consequente saída de John Barnard para a Arrows) e mais de 300 técnicos, um túnel de vento ultra moderno está a caminho, traçando um período quem sabe de vitórias para a Scuderia.
Berger e seu GP 200
A F1 nos anos 90 raramente tinha pilotos largando em 200 gps, em uma época de calendários com média de 16 corridas e carreiras mais curtas. Porém Gerhard Berger chegava a esse número em um local onde ele não tem muitas boas lembranças: 3 anos antes em dois dias seguidos perdeu dois amigos na pista e ele próprio quase morreu em Ímola 8 anos antes.
E a aposentadoria de Gerhard parecia chegar a galope: Tirando espasmos em 1996 (como a injusta perda a 3 voltas do final do GP da Alemanha) Berger realmente parecia cansado da convivência dos paddocks mundo afora. Mas o fim de semana não passa incólume: Seu companheiro Jean Alesi lhe oferece de presente um capacete mezzo Alesi, mezzo Berger e fala que vai usar na prova, pois se bater sabe qual lado vai mostrar para as câmeras. Berger ri alto e Briatore é apenas protocolar (Alesi que ficara fora de Melbourne por pane seca)
Prost e Jordan tumultuadas
Na Prost, a tentativa de reeditar a equipe made in France que tanto se via na Ligier é retomada: O nome de Emanuel Collard é falado com intensidade em Imola para substituir Shinji Nakano, que não está acompanhando o excelente início de temporada de Olivier Panis. A questão é: A Honda, fornecedora dos motores Mugen, madrinha de Nakano, e que tem um boleto com um belo desconto para fornecimento dos motores da equipe de Alain, vai aceitar?
Já na Jordan, o preço pela troca de pilotos experientes (Barrichello e Brundle) por dois novatos (Ralf Schumacher e Fisichella) está causando dores de cabeça: Em Buenos Aires o choque entre os dois na disputa pelo terceiro lugar, ainda era remoído por Fisichella, que aproveita a estada em casa para, em bom jeito italiano, informar que não há relação fora pista dele com Ralf após o ocorrido na Argentina.
Temporada européia pura: Todas as equipes com evoluções
A primeira etapa na Europa obviamente faz com que as equipes tragam evoluções, e dessa vez absolutamente todas as equipes estão em busca de seus décimos a menos: A Ferrari, Stewart, Minardi e a Sauber trazem evoluções nos motores. Jordan, Benetton e McLaren nos freios. Arrows e Williams trazem novas suspensões, Prost e Tyrrell trazem evoluções de aerodinâmica nos aerofólios.
Nos treinos oficiais, a Williams marca a primeira fila e o grande evento foi o novo embate entre Michael Schumacher e Olivier Panis. Eles haviam se chocado na curva 1 de Buenos Aires e, em Ímola, Panis acusa Schumacher de arruinar a sua volta rápida. A chegada de Alain Prost é necessária para acalmar os ânimos, e também para baixar a postura de Schumacher, que já preparava embate físico com Panis.
Novamente no Warm-up surge chuva, e não é pouca. O que faz com que Goodyear e Bridgestone testem seus pneus (Goodyear com pneus de chuva pesada, chuva moderada e intermediários e a Bridgestone com uma curiosa composição de pneus de chuva macios e duros). Largada sem chuva, porém pista sem borracha e nuvens pesadas.
Na Largada, Villeneuve mantém a ponta e Schumacher sobe para segundo, com Frentzen em terceiro e um surpreendente Ralf Schumacher em quarto. O Gp 200 de Berger acaba na sexta volta após uma rodada na Acqua Minerale. Enquanto isso o atual campeão mundial sofre na sua nova casa: Damon Hill na aventura da Arrows estava na 17ª posição após ter que trocar de carro antes da largada por um vazamento de óleo. Arrisca uma ultrapassagem em Shinji Nakano, e ambos batem ficando fora da prova. É um péssimo inicio de campeonato para o #1.
Na frente, Villeneuve, Frentzen e Schumacher lutam segundo a segundo, até a volta 26 quando a corrida é decidida: Villeneuve e Schumacher entram para o pit stop juntos, e a Williams faz um pit stop lento, devolvendo Villeneuve atrás de Schumacher e ambos atrás de retardatários. Na volta seguinte Frentzen faz o seu Pit Stop, melhor que ambos, e volta na liderança da prova. E
a partir da volta 35 a parada fica praticamente entre Frentzen e Schumacher: Villeneuve tem problemas de câmbio e perde 3s por volta para Schumacher, até a volta 41 quando o canadense abandona. E na volta 44 Frentzen faz o seu pit stop, e Schumacher tentando suas voltas voadoras pré-pit stop, roda na Acqua Minerale. Isso é decisivo para que Heinz Harald Frentzen vença sua primeira prova na F1, perante seu rival de dentro e fora das pistas na Alemanha. Eddie Irvine garante novo pódio duplo da Ferrari em Imola na terceira colocação.
1998: A troca de lideres ingleses na F1: Sai a dominância Williams e chega a dominância McLaren
Data: 26/04/1998
Prova: 62 voltas, cada uma com 4.930 m
Pole: David Coulthard -McLaren
Vitória: David Coulthard – McLaren
História para contar: A semana do Gp de Ímola coincide com o Salão do automóvel de Milão. E neste local tão concorrido, são vistos todos os grandes dirigentes das grandes marcas mundiais. Neste mesmo salão abre-se a silly season de 98/99: A Ferrari tem nos seus estandes Michael Schumacher, e este é efusivamente recebido por Gianni Agnelli, Cesare Romiti e Paolo Cantarella, líderes da FIAT mundial, que aproveitam para verificar como está o entusiasmo do alemão após a perda do título na última etapa de 1997 e a controversa manobra pra cima de Jacques Villeneuve em Jerez. No mesmo dia, Schumacher é visto com Jürgen Hubbert, importante conselheiro da Daimler, casa de formação de Schumacher e atual força 1 do campeonato com a Mclaren. As peças de xadrez se mexem rapidamente.
Prost Peugeot já em contagem regressiva?
Um dos componentes mais preocupados em Turim é Alain Prost. Ele é recebido por Frédéric Saint-Geours, diretor administrativo da Peugeot, que garante que o projeto não será encerrado pós 2000, quando a parceria Prost Peugeot deve acabar. Ao contrário do CEO da Peugeot, Jean-Martin Folz, que demonstra tendência a encerrar todo o envolvimento da montadora assim que puder e de Pierre-Michel Fauconnier, o chefe da Peugeot-Sport, que passa o salão todo evitando o tema Prost e F1.
O clima não é nada agradável, e para ainda pôr mais pimenta, o AP01 é frágil e tem problemas sérios aerodinâmicos e de caixa de marchas, fora que a Bridgestone renova o contrato até 2000 com Prost mas passa o contrato de equipe preferencial para McLaren e Benetton.
Centenário de Enzo Ferrari, McLaren dominante, Benetton se reconstruindo e o paddock fervilhando
1998 marca o centenário de Enzo Ferrari. E o ano marca 15 anos da última vitória da Ferrari em solo de Ímola. Já para Eddie Irvine o clima é de pressão: Com contrato chegando ao fim, se irrita com a imprensa local, que lhe questiona diretamente e com veemência, inclusive buscando informações sobre um possível teste de Max Biaggi, piloto da Motogp.
Já na McLaren, Mika Hakkinen domina o campeonato e também tem a sua marca centenária para comemorar: é o fim de semana de seu Gp de número 100, no local onde pontuou pela primeira vez em 1991. Na Benetton o clima é de ajustes, onde Fisichella sofre com o novo ambiente ao sair da Jordan, fugindo de um difícil convívio com Ralf Schumacher, e Alexander Wurz, surgido como um cometa em 1997 substituindo Berger em alguns Gp’s e fazendo pódio, parecia muito mais empolgado, e seu empresário tem conversas intensas com Jean Todt no motorhome da Ferrari.
Na Stewart, Jan Magnussen está contra a parede. Após um decepcionante 1997 onde foi dominado completamente por Rubens Barrichello, o ano de 1998 não muda o desempenho, e inclusive ele é visto mancando bastante, o que denota que a fratura na perna anos antes numa queda de Scooter está cobrando o preço físico. E quem está próximo da família Stewart é Jos Verstappen, que está fora do grid após sair da Tyrrell, e hoje testa a Benetton para manter a forma.
Frank Williams não está em Ímola, num movimento que oficialmente é de saúde, porém muitos desconfiam que é ainda resquício do acidente de Ayrton Senna. Quem comanda a equipe de Grove no final de Semana é Jonathan Williams, responsável pela equipe de testes, composta à época por Max Wilson e Juan Pablo Montoya.
Domínio das flechas de prata na casa vermelha
A prova é dominada desde os treinos pela McLaren, com Coulthard tomando a pole de Hakkinen no fim do treino de sábado e mantendo a liderança tranquila, ainda mais a partir da 17ª volta, quando Hakkinen tem problemas de câmbio e abandona a prova e em relação a Michael Schumacher, diferença que esteve próxima de 30s. O escocês só teve algum risco na volta 50: A temperatura da caixa de câmbio se altera e ele tem que tirar o pé, o que leva Michael Schumacher tirar 1s por volta. Mas a distância era muito grande: Coulthard vence a prova com Schumacher em Segundo e Irvine em terceiro, repetindo as posições de 1997, e aliviando a pressão na equipe, em Schumacher e em Irvine separadamente.
Após a prova, um detalhe que impressionou a todos: O motivo da quebra de Hakkinen foi que um dos produtores de peças da caixa de cambio da equipe foi enganada por seus fornecedores, que enviaram peças falsificadas (e claro com baixa qualidade) para a equipe de Woking.
1999: Finalmente Schumacher! E o Brasil de volta ao pódio em Ímola!
Data: 02/05/1999
Prova: 62 voltas, cada uma com 4.930m
Pole: Mika Hakkinen – McLaren
Vitória: Michael Schumacher – Ferrari
História para contar: A etapa de San Marino de 1999 vem com muitas novidades no paddock e nas forças do grid de largada. A BAR, que comprou o espólio da tradicional Tyrrell, chegava ao território italiano desfalcada: Após um acidente nos treinos, Ricardo Zonta está fora do Gp e de mais pelo menos 3 meses, dando lugar a Mika Salo (que receberia um chassis zerado, com as modificações principalmente de instalação de aerofólios entregues, coisa que falhou na Austrália com Villeneuve).
Salo, que havia sido desligado de forma abrupta por falta de dinheiro na semana do Gp da Austrália pela Arrows já tinha um contrato futuro na gaveta: Ele e Jos Verstappen iriam ser os pilotos de testes da Honda no retorno da montadora como equipe à categoria possivelmente em 2000. Porém, a morte de Harvey Postlethwaite, poucos dias antes do Gp, poderia mudar todos os planos na montadora Japonesa.
Quem está de volta é Luca Badoer, que esteve fora do GP Brasil devido a uma fratura na mão, dando lugar a um surpreendente Stephanie Sarrazin, que faz uma bela apresentação. Sarrazin até está em Ímola, para a etapa da F3000, mas certamente queria estar na F1 por mais uma etapa.
Ferrari em ebulição e Sauber em festa
Desde 1998 se fala sobre o fim de contrato de Eddie Irvine e Michael Schumacher com a Scuderia de Maranello. E o clima entre os dois não é nada amistoso: Irvine pela primeira vez nessas quatro temporadas se revolta para o combate contra Michael, a ponto de divergirem e discutirem no briefing de pilotos! A visão geral é que a Ferrari decidiu que terá trocas para 2000. Se será um cockpit ou os dois o tempo dirá.
Já na Sauber, o GP de número 100 dos suíços é comemorado com seus atuais pilotos e seus ex-pilotos, o que demonstra a tradicional fleuma suíça no trato com seus pilotos. Peter Sauber ainda aguarda a sua primeira vitória na categoria, mesmo tendo vários nomes e contratos de motores bem fortes.
Motores: Renault de volta à F1? Ford sendo equipe e BMW de volta
Mal saiu e os rumores da volta da Renault estão rondando o circo. Após a parceria com a Mecachrome, que abastece Williams e Benneton ( esta com a nomenclatura Supertec), a verdade é que a Renault nunca se desligou 100% da F1 (Coisa que a Honda por exemplo faz pela tutela Mugen desde 1993) . A presença de Bruno Michel, diretor da Supertec, e de Christian Contzen, gerente geral da Renault Sport, no paddock de Ímola, ao par de todos verem um Flávio Briatore bastante empolgado, deixam serias dúvidas sobre a volta dos franceses a F1.
A Ford informa a Giancarlo Minardi que em 2000 o fornecimento será exclusivo de Jackie Stewart. E os rumores que a equipe escocesa será 100% Ford amadurecem, inclusive com a marca Jaguar sendo ligada a essa aventura. O desempenho fantástico do SF03 no começo da temporada deixa margem para uma bela base se caso isso ocorra: Barrichello poderia ter vencido a prova em Melbourne mesmo com incêndio no carro principal na primeira largada, e sendo punido por excesso de velocidade na corrida tendo que pagar uma punição que lhe tirou da briga da vitória. E o destino mostra como a F1 funciona: A 5 anos atrás Giancarlo Minardi bateu a porta na cara de Briatore, após o caso Mugen-Honda. E em Ímola, os italianos são vistos em conversas bem diretas sobre os Supertec para 2000.
Já a BMW teve sua primeira ação de pista preparando-se para o retorno a F1 em 2000 após 13 anos da saída oficial. Jorg Muller testou e sem maiores problemas a primeira unidade em um Williams FW21 adaptado para os formatos bávaros. E quem acompanhou diz que o motor é um BMW puro, o que deixa a Williams em aguardo desde já por 2000.
Finalmente, Schumacher!
O fim de semana começa com o tradicional domínio da McLaren, com Hakkinen e Coulthard dominando a primeira fila e Schumacher e Irvine na segunda fila. Na largada tudo se mantém e Hakkinen, com baixo combustível, impõe ritmo fortíssimo para abrir distância e conseguir fazer funcionar a tática de dois pit-stops, quando na volta 18 o impensável acontece: Ao entrar na reta dos boxes, Hakkinen acelera, a roda traseira esquerda perde tração e o joga no muro externo da reta de Ímola na frente da arquibancada em festa e de um estupefato Ron Dennis. Era fim de prova para Hakkinen, e a McLaren via Coulthard pressionado por Schumacher.
Na volta 31, as táticas famosas da Ferrari dão suas caras: Schumacher faz o pit stop e põe pouco combustível para voltar à frente de Coulthard. A McLaren não reage, deixando Coulthard na pista e com retardatários na sua frente, finalmente parando na volta 39. Schumacher assume a liderança mas tem missão inglória: abrir pelo menos 20s para Coulthard para a tática funcionar. Nesse momento da prova, Rubens Barrichello ostenta uma sólida quarta colocação, atrás de Eddie Irvine.
Nas voltas 39 e 40 o sonho da Ferrari e dos tifosi toma forma: na 39 Coulthard erra e sai da pista, perdendo 4s na volta, e na 40 com pneus sujos, encontra retardatários que não lhe facilitam a vida. A vantagem de Schumacher é de 17s nesse ponto.
Na volta 42 os 20s que Schumacher precisa chegam, enquanto Coulthard segue se debatendo com os retardatários, e na volta 46 ele faz o segundo pit stop, não voltando somente à frente de Coulthard, mas também de uma fila de três retardatários entre eles. Ímola explode como se fosse um gol da Itália.
Porém nem tudo são flores na Scuderia: Na busca do terceiro pódio consecutivo em Ímola, Irvine vê seu motor estourar na Acqua Minerale. O que alça Damon Hill a terceira colocação com o Jordan Mugen Honda e Rubens Barrichello para a quarta colocação. Entretanto, Hill ainda tinha Pit Stop a fazer, o que ocorre na volta 50, deixando Barrichello em terceiro.
E com 61 voltas e 16 anos depois, a Ferrari passa em primeiro lugar em Ímola. Michael Schumacher finalmente dá a vitória aos tifosi no Enzo e Dino Ferrari, já quem em Monza já tinha dois triunfos em 1996 e 1998, com Coulthard em segundo e um aclamado Rubens Barrichello na terceira colocação. O sorriso de Jackie e Paul Stewart só não é maior que de Barrichello, aclamado pela torcida, cumprimentado efusivamente por Schumacher no pódio (lembre-se das rusgas Schumi x Irvine no começo do fim de semana…) e do aperto de mão de Jean Todt e Luca de Montezemolo, que chega de helicóptero minutos depois da corrida, abrindo assim o caminho para o paulista assumir um carro Ferrari no futuro!
Pois bem! Encerramos aqui a parte 5 do Documento Ímola! Logo logo vem a parte 6, com muita história desse autódromo importantíssimo para a F1.
Até lá e abraços a todos!