Grupo B: Sons e loucos

Como é agoniante se viver num país onde, em matéria de automobilismo, não tiramos a cabeça da velha roda de pensamento que compreende Enerto e da F1. Agonia mesmo, demais!

Eu, na minha santa ignorância de três décadas acompanhando corridas (sim, desde meus três anos de idade), tive que meio sair na marra para descobrir outras categorias, modelos de automobilismo que nosso pequeno universo tupiniquim não é capaz de decifrar, por preguiça ou pela tacanha falta de ídolos que permeiam o esporte.

Isso tendo, em algum momento, algum brasileiro envolvido sem que ninguém lembre ou faça questão de lembrar. Os protótipos e sua fase áurea, por exemplo, tiveram entre os campeões dos anos 1980 um certo Raul Boesel, que deu sangue e talento para levar a Jaguar a glória em 1987.

Talvez o Rally seja o patinho feio destas aventuras nacionais. Com tantas rotas vicinais nesse país, não termos mais uma prova do mundial chega a ser uma incompreensão sem tamanho.

O WRC (ainda sem esse nome) já esteve por aqui lá pelos anos 1980, mas a bagunça do Rally do Brasil de 1982 colocou a gente numa lista negra sem fim. E correr em terra, mesmo que se corra aqui nas nossas retas e barros (Rally dos Sertões que o diga) ficou coisa mais nossa do que pro mundo.

Pena… pena mesmo que, nos tempos do Grupo B, a gente não teve um cidadão dos nossos pra puxar audiência. Mas nem precisasse. A magia daqueles verdadeiros bólidos travestidos de carros de rua era algo de encher olhos e ouvidos.

Terra sendo revolvida pelo cavar alucinante de rodas, o som alucinante de engenhos explosivamente potentes sendo acelerados sem dó em caminhos de asfalto, lama, cascalho, areia, e tendo a multidão suicida os cercando e uns pequenos montes e riachos como as únicas seguranças (quando nem isto).

O Grupo B, essa delícia automotora suja de barro e lama que lapidou gente do naipe de Rohl, Salonen, Biasion, Mikkola, Ragnoti, Toivonen e… Mouton. Michele Mouton, o vulcão negro que explodia força num grid masculino, vencia e impunha respeito a base de barro e batom vermelho. Uma dama sem frescura, pura e simplesmente.

Quis a escalada de gastos e a inconsequente insegurança que cercava estes caminhos que acabasse com este espetáculo que beirava a insanidade. Doce insanidade de um automobilismo que ainda não está pronto para a conversa com os principiantes.

Noves fora, ouça e sinta: isto era o Grupo B. Saudade de Rallys malucos assim…

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