A MotoGP chega ao final de 2024 com um campeão inédito na categoria principal. Jorge Martin sagrou-se campeão ao chegar ao seu décimo sexto pódio na ultima etapa do ano, o Gp Solidariedade pela Comunidade Valenciana, disputado no circuito da Catalunha.
A consistência do espanhol foi crucial para a conquista. Tendo obtido três vitórias em Gp’s e sete vitórias nas Sprint races, o grande número de segundos lugares foi o suficiente para derrotar Bagnaia e suas onze (!) vitórias ao longo do ano. Os erros do italiano foram determinantes para fazer de Martin o primeiro campeão na era moderna com equipe satélite, a Pramac, que para a próxima temporada faz a transição da Ducati GP24 para ser satélite da Yamaha. Martin por sua vez, iniciará o desafio de pilotar a Aprilia RS-GP levando consigo o número 1 e o orgulho ferido por ter sido preterido pela equipe oficial. Fica a incógnita e expectativa para sua empreitada com uma moto que foi a única não-Ducati a vencer uma prova nesta temporada mas que perdeu performance ao longo do ano.
Marc Marquez fechou o ano em terceiro, com a Gresini e a Ducati de um ano antes, a GP23. Foi um ano de renascimento para o oito vezes campeão, tendo vencido três vezes e que ruma para a equipe principal no ano que vem. Fica destacada a performance muito superior de Marquez em relação aos demais pilotos que tiveram a GP-23. O mais próximo foi justamente seu irmão Alex, mas com 219 pontos de desvantagem.
O primeiro piloto não-Ducati foi Brad Binder e sua KTM. Novamente com muita consistência, o sul-africano acumulou uma série de quartos, quintos e sextos lugares para finalizar o ano à frente de Pedro Acosta, que por sua vez foi ao pódio cinco vezes e formará dupla com Binder para 2025, com promessas de ratificar seu posto de sensação.
A disparidade do número de vitórias entre o campeão e o vice (11 para Bagnaia contra 3 de Martin) deixa evidente que os detalhes formam um conjunto crucial numa disputa de título, Ambos iniciaram a temporada no mesmo nível de competitividade, mas a maior velocidade de Martin nas corridas Sprint em detrimento dos erros do italiano justamente nestas provas foram os detalhes principais, sendo o erro na penúltima corrida curta na Malásia o prego no caixão das chances do tricampeonato do italiano, sem mencionar ainda que em outras provas ele se envolveu em disputas desmedidas e precipitadas (Gp de Portugal, com Marc Marquez e Gp de Aragão com Alex Marquez) que resultaram em abandonos, ou então em erros estranhos como em Misano, quando caiu sozinho e pôs a culpa no pneu.
Pecco deixou claro, por sua capacidade de recuperação ao longo do ano que é um piloto extremamente técnico e veloz, mas tende a zerar corridas quando menos se espera. Esse prognóstico é ruim para quem vai receber alguém como Marquez ao lado da garagem, ainda que ele tenha demonstrado maturidade em suas declarações, como por exemplo não querer trazer à tona a interminável rixa do seu futuro companheiro de equipe e seu mentor Valentino Rossi.
Bagnaia estará enfraquecido por ter perdido um título para si mesmo e terá que usar a sinergia e maior tempo de convivência com a equipe como arma para se estabelecer, mas lembremo-nos que Marquez é astuto e fará de tudo para centralizar as atenções.
A temporada 2024 marcou a despedida de Aleix Espargaró. O catalão se aposenta como piloto de competição e passará a ser piloto de testes da Honda. Aleix venceu 3 corridas ao longo de uma longínqua carreira, e defendeu a Aprilia nas últimas sete temporadas. Viu na sua corrida de despedida o grande amigo Martin ser campeão. Cumpriu em parte a promessa de ajudá-lo, ao acompanhar Martin por toda a prova até ser ultrapassado por Alex Marquez.
Ai Ogura: primeiro japonês campeão após 15 anos.
Quanto à classe intermediária (Moto2; Triumph 765), o título ficou com o japonês Ai Ogura. Pilotando o chassi Boscoscuro (primeiro título), o nipônico liquidou a fatura ainda na antepenúltima etapa, o Gp da Tailândia. O Japão teve seu ultimo piloto campeão no distante ano de 2009, com Hiroshi Aoyama conquistando o último campeonato das 250cc. Ai Ogura se recuperou de uma lesão importante no pulso sofrida ainda na pré-temporada do ano passado para vencer três etapas e subir no pódio mais cinco vezes durante este ano, derrotando o experiente Arón Canet. Ogura parte para a MotoGP na próxima temporada para pilotar a Aprilia satélite na equipe RNF Racing ao lado de Raul Fernandez. O brasileiro Diogo Moreira celebrou o título de novato do ano com seu primeiro pódio conquistado na ultima etapa.
David Alonso: recorde de vitórias
Na Moto3 o colombiano David Alonso teve uma performance avassaladora. Foram nada menos que 14 vitórias, sendo as últimas sete consecutivas, além de bater o recorde de Valentino Rossi. O título veio ainda na etapa de Motegi, com quatro etapas de antecedência. Finaliza o ano com 165 pontos de vantagem para o vice Daniel Holgado, que será seu companheiro de equipe na Moto2 na mesma Aspar, equipe de Alonso. O terceiro colocado, o holandês Colin Veijer também subirá de categoria.
2024 deixou mais respostas do que perguntas. Para a MotoGP ficou claro que a adoção das etapas Sprint formam um elemento crucial no andar do campeonato. Esta foi a última temporada que a Ducati dispôs de oito motos no grid, pelo fato que a equipe campeã Pramac inicia uma parceria de oito anos previstos com a Yamaha, que espera pôr em prática os trabalhos do novo corpo técnico contratado ao longo desta temporada (que inclusive desempenhou papel principal no convencimento à permanência do campeão de 2021 Fabio Quartararo), além da expectativa do motor V4.
A Honda, que há exatos cinco anos celebrava o título com Marquez e o amplo domínio na categoria, finaliza pelo terceiro ano consecutivo como a pior moto. Luca Marini e Joan Mir estiveram na maior parte do ano fechando o grid e com apenas 36 pontos marcados. As esperadas mudanças começarão com a chegada do engenheiro Romano Albesiano, que trabalhou por 17 anos na Ducati e teve passagem recente na KTM. A equipe austríaca aliás vive uma crise nos bastidores. O balanço financeiro não é favorável e já houveram demissões e redução na produção para custear e viabilizar o departamento esportivo. Brad Binder fechou o ano como primeiro não-Ducati e como alento, a equipe terá os serviços da sensação do ano Pedro Acosta para mudar o cenário de dois anos sem vitórias para a RC16
2025 promete. Aguardamos!