Esquecer Streiff?

Antes que o Natal de 2022 chegasse, um ex-piloto de corridas francês morreu.

Seria notícia comum para um esportista sem estatísticas relevantes? É o cruel pensamento de poucos mortais não aprofundados na história de um cartaz de tempos movidos a turbo e uma certa inconsequência veloz.

Entre o céu e o inferno, era Phillipe Streiff um de tantos que lutavam para ser alguém em uma década apinhada de gênios em cada canto, sobretudo na F1 turbinada oitentista que corria por ai.

Período produtivo de países como França e Itália no automobilismo, Streiff foi uma dessas crias que caiu na categoria máxima bem apadrinhado e que tinha seu valor lapidado nas categorias inferiores.

Talvez o desastrado momento, atropelando a instituição Jacques Lafitte em Adelaide, o privou de voos maiores e o relegou a um servil em times pequenos (como se Tyrrell fosse “pequeno”, mas é por ai).

Nos testes de pneus e, depois, preso e gravemente ferido no Cheirinho. A vida de Streiff mudou naquela curva de Jacarepaguá

Nessa pequenez do fundo do grid – o que não diminui em nada o valor de sua carreira em tempos tão concorridos – é onde o ainda jovem Phillipe mostrava serviço, ou tentava quando o bólido de Gonfaron permitia. Infelizmente foi onde ele encontrou sua desgraça de vida, sob o sol e as incompetências burocráticas e descuidadas de alguns cariocas, que o colocaram em uma cadeira de rodas.

Sair vido daquele carro já por si foi uma vitória, algo que ele quis continuar prolongando durante a vida, participando ativamente de ações pela segurança nas estradas ao redor do mundo. Adotou um novo rumo pra vida sem largar o volante, dirigindo com as tecnologias que fazem um tetraplégico um motorista exemplar como qualquer outro motorista exemplar nas curvas da vida.

O brigador Phillipe Streiff se foi deixando esse legado que tantos como ele tão magnificamente nos dão de herança: de não permitir que a limitação ser a nota maior da vida, independente de qual seja. E isso vale tanto para sua condição física imposta quanto para o que viveu nos tempos de piloto, tentando driblar a fraqueza de equipamento que lhe era realidade.

Ele foi um exemplo a sua forma, seu jeito, E coloca-lo numa manta de comuns baseando-se em feitos na pista é uma ignorância pesada demais de se lidar. Qualquer um que venceu e chegou ao máximo, mesmo sem conquistar tentos e títulos naqueles tempos, merece palmas pelo feito. É um quase-herói destes anos de ouro.

Nenhum é insignificante se domar o impossível. Se Streiff o fez com um AGS e, depois, com o nefasto imobilismo imposto, é um exemplo heroico. E dos fãs da velocidade, as nossas palmas.

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