(POR: Pedro Ivo Faro)
Ao distinto leitor (principalmente àquele que acompanha a Fórmula 1 em eras recentes), não custa elucidar que o esporte a motor de 40 anos atrás era totalmente diferente. Mais que isso: grandes nomes que viriam a ser dominantes em anos futuros ainda estavam se provando na categoria ou sequer haviam aparecido.
E 1983 foi, provavelmente, uma transição, talvez meio que um ponto de virada neste aspecto. Assim, abrimos uma série sobre o que foi a temporada de F1 de 1983, onde assistimos uma reviravolta no regulamento técnico, a chegada pra valer dos turbo, o aperfeiçoamento de detalhes da corrida (como os pit-stops) e, claro, a briga que deu a Nelson Piquet o segundo de seus três tentos mundiais, sendo o primeiro de um motor turbo.
Transição: Mezzo 70, mezzo 80
Mesmo estando nos anos 1980, a década anterior ainda era bem viva nos nomes já que parte significativa do grid ainda era egressa do “fim da era romântica”. Emerson Fittipaldi havia se aposentado poucos anos antes, Niki Lauda voltara ao circo no certame anterior, John Watson seguia ativo no circo junto do austríaco guiando uma ascendente McLaren e Jacques Laffite mudava de ares e ia da Ligier para a Williams, isso só para citar alguns exemplos.
Nomes fortes da década ainda eram desconhecidos ou buscavam alguma ascensão. Na Inglaterra, o garoto Ayrton Senna (por vezes chamado “da Silva”) ainda era um jovem intrépido que, àquele ano provaria seu talento na F3, mesma situação do também jovem austríaco Gehrard Berger. Alain Prost ainda não era “o professor” mas já dava indícios de ser promissor, com cinco vitórias, sete poles e 10 pódios desde a estreia na categoria, três anos antes.
Já Nigel Mansell ainda cortava um dobrado na Lotus. Com dois pódios na carreira e uma desconfiança e tanto de Peter Warr, chefe do time de Hethel e que apostava mais no companheiro de equipe do inglês, o Italiano Elio de Angelis para conduzir a esquadra anglo-saxã ao caminho das vitórias. Este já havia conseguido um pódio e uma vitória em anos anteriores, mas tal qual o colega inglês, também sofria um bocado em tempos de pouca confiabilidade dos carros preto-e-dourados.
Os inimigos na trincheira
Nelson Piquet não vinha para 1983 necessariamente de peito aberto: já havia provado seu talento dois anos antes, ao se sagrar campeão numa renhida disputa com Alan Jones e (principalmente) Carlos Reutemann da Williams. E vale lembrar, nenhum dos dois estava no grid em 1983, o argentino parou repentinamente no começo de 1982 e o australiano no fim daquele mesmo ano (mesmo voltando esporadicamente pela Arrows e já totalmente fora de forma).
Além deles, outros dois que poderiam ser boas fontes de dor de cabeça ao piloto da Brabham saíram do grid na sangrenta temporada passada: Gilles Villeneuve falecera num forte acidente nos treinos para o GP da Bélgica, em Zolder; e Didier Pironi ficou seriamente ferido nas pernas também em um forte acidente, mas nos treinos para a prova de Hockenheim, na Alemanha, e nunca mais voltaria ao grid.
E Keke Rosberg? O campeão da temporada anterior já largaria em severa desvantagem para aquele ano com uma Williams ainda apoiada nos velhos Cosworth aspirados diante um exército de turbos. Não a toa, ficou apenas num modesto quinto lugar e pouco ameaçou Piquet àquele certame, embora deixou seu show em algumas provas, como o 360° em Long Beach, fazendo de tudo para extrair daquele carro alguma coisa.
Então quem eram os rivais do brasileiro? Basicamente os ases do saudoso “Volant Elf”: o já citado Alain Prost seria o principal inimigo na trincheira, disputando palmo a palmo com o brasileiro o título e carimbando de vez seu passaporte para os grandes da categoria. Além dele, a dupla da Ferrari – René Arnoux e Patrick Tambay – também vinha forte, ainda que ambos (principalmente Arnoux) tenham sido desafiantes ao título apenas em parte da temporada, em um “fogo de palha” da esquadra de Maranello.
Os reflexos de 1983 seriam sentidos por uma década inteira. Não a toa, este era um ano de pura transição, onde a tecnologia entraria, de fato, na roda da disputa a cada ano, abrindo o chamado abismo entre equipes grandes e pequenas, mas ainda seria responsável por abrir um novo período dourado da categoria, entre grandes nomes, grandes marcas e disputas memoráveis.
Estamos apenas começando.