Dia bem britânico: famílias fora de casa em um dia sem sol, os yorkshire puddings na cesta, aquela Guiness bem geladinha e a turma do trabalho toda junta nas arquibancadas da velha pista de pouso dos tempos da Segunda Guerra. Afinal, estamos em Silverstone, berço de tudo, tão diferente quanto já fora no passado, mas ainda tão simbólica quanto para a categoria.
A clássica casa britânica, novamente, recebeu o circo que, diferentemente da produção de Brad Pitt e seu F2 feito F1 desfilado pelas curvas do autódromo, ainda tem finais de corrida previsíveis e dispensáveis do bom e velho spoiler: Max Verstappen ganhou de novo, “estragou a brincadeira” com sua dominancia assustadora e continua passeando rumo ao tri.
Fora isso – e é a única linha que vou dar para Max nessa resenha – o fim de semana bem britânico só não foi mais previsível porque a casa de Woking resolveu fazer-nos brilhar os olhos. Ele já tinha sido eleito por esta resenha o destaque na Áustria, e resolveu converter esse bom momento em um sólido segundo lugar em Silverstone: Lando Norris.

É claro, a casa de Zak Brown meio que perdeu a mão com estratégias de box e poderia ter colocado tudo a perder. No entanto, o jovem inglês tem braço pra buscar o prejuizo e o fez com pericia e uma dose de frieza, segurando Lewis Hamilton na metade final da prova, em brigas ruidosas e encarniçadas.
Para completar, junto de Norris, Oscar Piastri segue sua boa trilha de aprendizado e pode rir a toa quando passar em frente ao box da Alpine: só chegou em quarto pelo mesmo problema de estratégia que Woking apresentou, mas não deixa de ser um resultado sólido, sem deixar-se sucumbir pelo erro, como acontece por vezes. Um bom fim de semana para o jovem australiano, enfim.
No mais, Silverstone foi a continuidade dee alguma situações já observadas desde o Canadá, entre os altos-e-baixos de uns e a decepção de outros. O roteiro desse filme de 2023, como disse, continua extenuantemente previsível, Max ainda domina descomunalmente, vai ser tri sem discussão e só mesmo uma reviravolta cinematográfica trará algum adversário de peso para o holandes… algum dia.
Os 10 (Corrida)
1) Max Verstappen (Red Bull-Honda)
2) Lando Norris (McLaren-Mercedes)
3) Lewis Hamilton (Mercedes)
4) Oscar Piastri (McLaren-Mercedes)
5) George Russell (Mercedes)
6) Sergio Perez (Red Bull-Honda)
7) Fernando Alonso (Aston Martin-Mercedes)
8) Alex Albon (Williams-Mercedes)
9) Charles Leclerc (Ferrari)
10) Carlos Sainz Jr (Ferrari)
Pilotos:
1) Max Verstappen (255)
2) Sergio Pérez (156)
3) Fernando Alonso (137)
4) Lewis Hamilton (121)
5) Carlos Sainz Jr. (83)
6) George Russell (82)
7) Charles Leclerc (74)
8) Lance Stroll (44)
9) Lando Norris (42)
10) Esteban Ocon (31)
Construtores:
1) Red Bull-Honda (411)
2) Mercedes (203)
3) Aston Martin-Mercedes (181)
4) Ferrari (157)
5) McLaren-Mercedes (59)
6) Alpine-Renault (47)
7) Williams-Mercedes (11)
8) Haas-Ferrari (11)
9) Alfa Romeo-Ferrari (9)
10) Alpha Tauri-Honda (2)
Destaque: Lando Norris (McLaren)
Repeteco da Áustria? Não, o jovem inglês mereceu. Devo eu morder um pouco a língua depois de dizer, várias vezes, que ele não tem se recuperado do baque da Rússia. Norris tem dado este sinais de volta aos trilhos de formas muito contundentes. Não que a McLaren seja um primor ainda, mas é preciso talento para mostrar que está vivo, que não é só um número na multidão depois de tantos revezes.

O carro de Woking ainda não está no seu lugar, podemos dizer. A prova foi o próprio time, ao se perder na estratégia de pneus e quase botar fora um pódio certo. Ai é que tem que bater palma para o talento de Norris: diante de um Hamilton mais bem calçado, o garoto suportou ataques furiosos, sabendo como brigar e sem se colocar no limite do erro. Foi o braço do jovem inglês que o colocou a frente do compatriota e no pódio.
Talvez na Hungria ainda veremos um pouco mais deste bom momento da McLaren, mas enquanto ele está ai, é de Lando a voz de liderança. Ele está bem recuperado da Rússia, só deixar a evolução seguir seu curso.
As equipes
Red Bull: Por enquanto, escrever linha para os touros aqui torna-se quase uma obrigação protocolar. Vamos e viemos, Max está imparável, estraga a brincadeira no último segundo do treino e está só esperando a hora de festejar o tri. Enquanto isso, Perez voltou a rotina da mediocridade, ficando fora do Q1 e saindo com oito pontos suados depois de uma estenuante recuperação. Um lado da garagem trabalhando mais que o outro, naturalmente.
McLaren: A grande vedete do fim de semana, com seu carro “chromado” e um desempenho consistente desde os treinos. Norris fez por valer demais o segundo lugar e Piastri segue a trilha de aprendizado, que poderia ter sido um terceiro lugar não fosse os erros na estratégia de pneus. A pergunta que fica é se esse bom momento continua ou foi apenas brilho pontual? Aguardemos…
Mercedes: Um fim de semana OK para a estrela de três pontas. Hamilton fez o dever de casa e alegrou a massa com o terceiro lugar, muito bem garimpado e usando-se dos erros da McLaren para tanto. Russell também fez o seu e faturou o quinto posto, surpreso com o braço e velocidade de Piastri em m mante-lo atrás. Noves fora, o carro não tem mais para onde ir, mas permite seus brilhos.

Aston Martin: Será que a luz verde está se apagando? Num fim de semana festivo pela solenidade de 100 anos da marca, esperava-se bem mais, sobretudo depois do alerta ter sido aceso na Áustria. Mas não foi bem assim, Alonso passou escondido e sem brilho e Stroll nem pontuou. A carência de mudanças para acompanhar o grid segue sendo grande, ou o time corre o risco de perder todo o bom momento por uma inconformante demora.
Williams: E como faz bem ver Grove aparecendo bem e com consistência, dentro das suas atuais possibilidades. E tudo isso tem o dedo do combativo Alex Albon, que beliscou mais uns pontos atingindo um sólido oitavo posto e colocando a dupla da Ferrari no bolso. Até mesmo Logan Sargeant merecia ponto depois do bom desempenho nos treinos livres. Bons ares nos lados azuis-escuros do grid, felizmente.
Ferrari: Dia durissimo! Enquanto se fazia a festa em Monza, pelo WEC, a casa de Maranello penava com uma prova discreta em Silverstone. Foi um trenzinho digno, com direito a farpas entre Leclerc e Sainz durante as atividades. Mais humilhante ainda foi terminar nas últimas posições pontuaveis e sendo colcoados no bolso pela Williams de Albon, um duro reflexo da realidade mediana da marca neste ano.

Alfa Romeo: A clássica figuração de sempre, continuando a ser feito de observar o quanto que a equipe continua sem evoluir, desaparecida do grid e com pilotos quase na beira da diversão, num aguardo funesto pela Audi. Bottas foi o melhor, mais perto da zona potável, quando Zhou pouco apareceu.
Alpine: Desde Monaco que a coisa não engrena mais para os franceses, e na Inglaterra pouco, muito pouco, fizeram durante a atividade. Surpreendeu zero pessoas o abandono duplo de Gasly e Ocon, com problemas.
Haas: Desta feita, sem brilharecos de treino, diga-se de passagem. Quando chove, ainda há uma chance de se mostrar, mas o fim de semana foi sequinho em Silverstone e a Haas passou incólume. Para não dizer tanto, Magnussen ainda causou um safety-car depois de abandonar com problemas, e só.
Alpha Tauri: Fragorosamente os últimos dos que estavam na pista. Nem Tsunoda ou De Vries apareceram no fim de semana e ainda tiveram a sorte de terminar na volta do lider. Rotina normal nos touros de Faenza.
Enfim, saimos de Silverstone e embarcamos para o leste europeu, esperando alguma surpresa nas apertadas e tortuosas curvas húngaras, onde o dia é mais quente e as imprevisibilidades, as vezes, costumam aparecer. Será o suficiente para vermos uma prova entusiasmante?
Resta aguardar duas semana e lá estaremos, no dia 23. Até mais ver.