Sabe aquela coisa do jogador de sinuca acertar a tacada no lugar certo e do jeito certo? Aquela jogada final, quase improvável que dá a ultima caçapa da noite e a gloria ao jogador que ousou na estratégia para dar o nó nos adversários?
Ou até mesmo um tabuleiro de xadrez daqueles prontos pro xeque-mate. O jogador observa sorrateiro o movimento do oponente já pensando onde pisar, como traçar o caminho para a vitória ou tentar a virada mesmo numa situação cabeluda.
Automobilismo é exatamente como as duas situações acima. Fora os duelos, as derrapadas e as divididas, corrida é jogo de cérebros, de estratégias certeiras que, bem encaixadas, são capazes de virar até mesmo a batalha mais difícil. E nisso, a Mercedes fez valer seus pensadores atrás dos computadores.
Foi assim que Lewis Hamilton saiu para suas férias (no mínimo, alucinantes) com mais uma vitória no currículo, a de número 81, numa atuação valente diante do garoto do fim de semana – Max Verstappen – num interessante GP da Hungria, na quente Budapeste. Medindo forças com o holandês, Lewis contou com uma tacada certa na estratégia e, combinando isso com sua persistência, conseguiu sacramentar uma vitória quase improvável num fim de semana de pré-férias, surpresas e pensamentos para o futuro.
De fato, era o fim de semana da Red Bull. Os touros paraguaios viveram um sábado de emoção quando Max cravou sua primeira pole na carreira, tão esperada e de pedra tão cantada, com 18 milésimos a frente de Valtteri Bottas. Na largada, o holandês capricha e toma a ponta enquanto Hamilton divide curva com o companheiro e mais alguns em busca do segundo lugar. O duelo ia começar.
E que duelo interessante. Não havia agressividade no ar – uma boa prova de maturidade de ambos – mas estava instalado um clima suspensivo: seria num golpe estratégico que o jogo viraria. Ele não veio na primeira parada graças as voltas voadoras de Verstappen, mas na segunda parada, foi a hora de Toto Wolff tacar certo, parar na hora certa e contar com o talento do britânico para reverter 20 segundos em diferença visual, e disso para a vitória.
Foi um golpe só. Com 20 voltas para o fim, a Mercedes faz a parada de Hamilton e o inglês desce o tempo de forma espantosa. De um a dois segundos por volta, Lewis rema com o que tem na mão aproveitando do deslize dos austríacos, e este talvez o determinante pela perda da vitória: se Verstappen para logo na volta seguinte, teria pneus ainda melhores que Lewis no final, mesmo atrás poderia brigar pela ponta contando com o bom desempenho do engenho Honda em alguns trechos da pista.
Não aconteceu, e o bote estava pronto. Era questão de tempo até Hamilton chegar em Max, armar o bote e passar de passagem diante de um holandês de pneus lixados no asfalto quente. Foi o golpe final e a vitória veio até fácil no fim, e tudo depois de um pesadelo vivido na Alemanha na semana anterior.
Dolorido para Max? De fato, era o seu fim de semana e uma falha na estratégia colocou tudo por abaixo. Há quem culpe Pierre Gasly pelo fato, mas uma equipe é um conjunto, pensa junta e arma junta. Esse pentelhésimo de segundo de uma parada e outra foi determinante, e assim, o sonho da terceira vitória em quatro corridas escapou-se pelos dedos.
OS 10 MAIS – Classificação:
1 – Lewis Hamilton (Mercedes)
2 – Max Verstappen (Red Bull-Honda)
3 – Sebastian Vettel (Ferrari)
4 – Charles LeClerc (Ferrari)
5 – Carlos Sainz Jr. (McLaren-Renault)
6 – Pierre Gasly (Red Bull-Honda)
7 – Kimi Raikkonen (Alfa Romeo)
8 – Valtteri Bottas (Mercedes)
9 – Lando Norris (McLaren-Renault)
10 – Alex Albon (Toro Rosso-Honda)
OS 6 MAIS – Campeonato:
1 – Lewis Hamilton (250)
2 – Valtteri Bottas (188)
3 – Max Verstappen (181)
4 – Sebastian Vettel (156)
5 – Charles LeClerc (132)
6 – Pierre Gasly (63)
Amenidades:
– Já se falam em batatas quentes na F1, e duas delas são as mais visíveis de todas: Valtteri Bottas e Pierre Gasly. O primeiro, mesmo com a estrutura da Mercedes, pouco faz frente para Hamilton. O outro, depois de tanto falar em idos passados, pouco faz com a Red Bull. São dois casos de vagas que podem estar no “bamboleio” da categoria pela falta de serviço de ambos. Nem classificação boa em campeonato ajuda nessa hora, fica a dica!
– Ferrari na Hungria? Coadjuvante de luxo. Vettel ainda arrancou um bom terceiro lugar, seguido por LeClerc, que reclamou dos pneus do carro na corrida. O apagão de Maranello chega a assustar e, como se não bastasse, Max já se coloca a frente dos vermelhos. Tomara a segunda metade do ano ser bem mais venturosa, ao menos para não passar o ano em branco sem uma misera vitória para os lados de Matia Binotto (seria ele um novo Claudio Lombardi?)
– Enquanto isso na Haas… quem fica com as vagas de Grosjean e Magnussen? Manter os dois no time será um tiro no pé no time de Mr. Steiner. Sérgio Pérez surge como boa opção mesmo numa temporada apagada na Racing Point.
– E a decepção continua decepção. Sem pontos na Hungria, a Renault continua com a lavoura seca em 2019. Poucos resultados, muito dinheiro empregado e, agora, contando com Alain Prost como consultor. Se “le professeur” não acabar com o time do jeito que fez com a saudosa Ligier, já seria uma vitória. Do contrario…
– Enquanto isso, que bom ver a McLaren renascendo. Depois de tantas cabeçadas e mesmo com um motor Renault que não é o ideal, o team de Woking se instala como a quarta força do grid, sendo novamente presença constante nos pontos e entregando boas atuações do eficiente Carlos Sainz e do muito bom Lando Norris. Desta vez, um novo quinto para o espanhol e um nono lugar para o inglês. Um pódio esse ano seria um marco e motivo para um festão que vare a noite em Woking.
DO BAU: Raikkonen, Depailler e os esportes radicais
Nem sempre, uma equipe gosta do que um piloto seu apronta nos tempos livres. E quando o assunto é praticar esportes radicais, a coisa fica mais séria. A mistura pilotos X atividades radicais sempre esteve presente. De Ayrton Senna e suas voltas de jet ski a Ukio Katayama e o alpinismo, quase todo bota sempre procura algo para se divertir ao extremo fora das pistas.
A peteca foi levantada esta semana quando Kimi Raikkonen, em entrevista a uma publicação húngara, disse que ainda nem leu o contrato que tem com a Alfa Romeo, especialmente se ele contém algo sobre esportes perigosos. Mas o finlandês, fiel ao seu estilo e assíduo praticante de hockey e motocross, já foi bem claro em avisar que “se choramingarem por qualquer coisa, vou-me embora”. Coisas das estrelas do volante.
No entanto, esta situação faz lembrar o mesmo vivido por um saudoso nome francês de outros tempos: Patrick Depailler. Dividindo seu tempo entre o volante e as “brincadeiras de gente grande”, vez em quando se metia em encrencas. A maior foi um acidente de asa delta em 1979, quando, vindo da Tyrrell, defendia a Ligier e estava entre os favoritos do ano. Foram várias fraturas, o resto da temporada de molho e uma consequente não-renovação de contrato por parte de Guy Ligier para o próximo ano.
No ano segunte, sem teto, Depailler acabou indo parar nos cockpits da Alfa Romeo, nos tempos de Carlo Chitti, e lutava para tornar competitivo o já bom carro de Balocco. Infelizmente, a morte veio antes em um terrível acidente durante testes da equipe em Hockenheim. Foram apenas 123 corridas e reles duas vitórias, ambas pela Tyrrell.
Enfim, a F1 entra em férias mas esperamos, neste embalo revigorante de voltar a falar de corrida, pneus, velocidade e história, mantermos bom contato. A categoria volta dia 1º de setembro, na mítica Spa, para o GP da Bélgica.
Até mais!