Merci, Patrick!

Dizem que qualquer piloto que domou estes bólidos com efeito solo ou com motores turbo (ou as duas coisas juntas) merecem uma salva de palmas pelo que fizeram. Eram carros perigosos, as vezes verdadeiras “cadeiras elétricas”, e o risco era uma constante a cada curva nestes tempos de tecnologia a mil e segurança a zero.

Qualquer um que tenha passado essa época é merecedor destas palmas: os gloriosos, aqueles campeões do mundo e seus feitos; e até mesmo os medianos, que arriscavam o pescoço apenas pelo simples fato de pontuar na categoria. E o caso de Patrick Tambay não seria exceção, mesmo não sendo um grande nome do panteão, mas também não sendo um desprezível de fundo de pelotão.

Daniel Patrick Charles Maurice Nasri Tambay, francês da cidade-luz, um destes tantos jovens garotos que ostentavam a bleu-blanc-rouge nas pistas e, como tantos da sua geração, foram chegando de turma na categoria em meados dos anos 1970. De equipes pequenas e o período difícil da McLaren fim dos anos 1970 e início dos 1980, ele cavou seu espaço lentamente até chegar, em um singelo convite, a poderosa Ferrari e toda sua fleuma.

A chegada na Ferrari, em 1982, substituindo o gravemente lesionado compatriota Didier Pironi. Uma passagem regular, marcada pela gloria de Imola, em 1983, com seu bólido 27 diante de uma maré de tifosi (Reprodução)

Não foi o melhor momento? Talvez não. Tambay, rápido e inconstante, as vezes duramente criticado pela irregularidade e uma certa “falta de talento”, tentava provar seu valor. Era um garoto francês no meio de gente do naipe de Prost, Laffite, Arnoux, Jarier, Jabouille e Pironi querendo ser mais um dos mosqueteiros a fazer parte da roda. Quis o destino que, no seu melhor momento, sucedesse a um convalescente Didier na Ferrari, e ali mostrasse algum talento maior.

Logo na primeira corrida de vermelho, venceu. A primeira das duas vitórias de sua vida, recheada de pódios e alguns bons pontos, motivo de gratidão pela Ferrari nas conquistas do mundial de construtores em 1982 e 1983. Alias, neste último ano foi talvez onde Patrick tocou mais divinamente os tifosi em toda sua passagem por Maranello: duelando olho-a-olho com Riccardo Patrese, venceu a briga a unha e venceu sua segunda corrida na carreira.

Cruzou a grande reta sob aplausos, gritos e choro de torcedores que ainda viam Gilles Villeneuve naquele carro #27: estávamos em Imola, impossível não ser mais apoteótico se somar o fato que o francês era padrinho de Jacques, aquele que seria campeão mundial tempos depois.

Na Renault, em 1985, ainda seria mais um ano na F1 pela Haas, no ano seguinte, depois indo tentar a sorte em Le Mans e no Paris-Dakar (Reprodução)

Após a Ferrari, seriam ainda mais dois anos pela Renault (comendo o pão ao lado de Derek Warwick) e um pela Haas/Lola e seu projeto fracassado na F1. Ainda enveredaria por Le Mans e pelo Paris-Dakar, sempre com algum destaque, isso até o Parkinson o levar a vitalidade e o fazendo sair da vida pública para virar uma peça da história.

Tambay foi um grande e merece esse título justamente por viver no limite em carros feitos para o fio da navalha e sair vitorioso – ainda que com duas vitórias apenas – das pistas que correu. Poucos tem isso nas estantes para inspirar filhos e filhas, netos e netas e quem mais for. E lembrar de Patrick Tambay é lembrar de mais um destes tais que faziam a gente ligar a TV de manhã para ouvir roncar motores furiosamente a cada curva.

Patrick passou, a história escrita está lá para sempre, e onde passar um capacete azul e branco, alguém ainda vai lembrar do francês com cara de garoto que queria ser um mosqueteiro.

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