O barco de Big Mo

Ei, Big Mo!

Onde andaria o barco nas ondas que cercam nossas esquinas da memória de tuas proezas?

Quem se recorda em palmas do catarina tornado paranaense e dos contos daquele jovem de fala cheia de sotaque se virando no frio e cinza britânico para ser tão grande quanto o colega da qual dividia o quarto e o despertador barato?

Maurício, um dos grandes, ainda o é, enquanto o barco navega por algum lugar num respeitoso e silencioso isolamento que, admitimos, aperta-nos com a necessidade de ouvi-lo outra vez. Um grande, tão grande quanto a prateleira de glórias que guarda, um homem que pediu para desligar holofotes diante das cruezas da vida.

Duro hiato de resenhas? Esta dita tecnologia tem chamado tantos para deleitar aos admiradores e admiradoras acerca das proezas que faziam quando eram eles um dos ditos “azes” do futuro brasileiro nas pistas. E nestes microfones e câmeras sofisticadas onde estaria Big Mo e o barco?

O senhor que, menino, era um atrevido domador de karts, tinha azar quando estreava capacete novo, sorria falando mesmo que o engenho abrisse o bico ou o dia fechasse num sábado amargo. Tantos poréns da profissão mas que, como sonhadores de outrora, queria vencer, mas sem o preço de “ser o mais rico no cemitério”, como mesmo lembrava em constante oração.

Ele não foi o tão rotulado “vencedor”? Ora, se os grids do mundo não reservaram glorias maiores, cai então Maurício naquela lógica certeira dos botas do passado: “o fato de lá estar e de conquistar muito com equipamento pouco é digno de estar entre grandes”. Este Maurício que hoje navega suas léguas marinhas fez a hora e, ainda por estes dias, ouvem-se palmas ecoando pelos conquistados das pistas com garbo.

É da profissão as nuances negativas, mas quantos respirariam fundo mesmo quando a carruagem promissora de um dia era a abóbora carcomida de outro? A tal realidade daquela máquina azulada que lhe fazia voar sem asas em vez de subir degraus do pódio como fizera ante os olhos dos compatriotas e sob o poético calor carioca de 40 graus.

E por outra: quanto ainda desviariam dos olhares desconfiados para cruzar o Atlântico e refazer nome com monopostos pesados de freios de aço, adornados com tabaco e esbanjando a classe acreditando que, mesmo em 10º, podia aprontar muito mais em ruas, pistas e ovais?

Aquele movimento podia bem ser espelhado com esta tua navegação: isolada, as vezes desleixada por mentes menores que viam a “vida” do lado do velho mundo, convivendo com o extremo da velocidade movida ao invisível metanol e virando curvas tendo com o acelerador a sensibilidade de um relojoeiro em busca do vácuo perfeito. Estouros, estampadas, dias pesados e difíceis, mas glórias que te diziam, ao menos para si nesse mar yankee: “fiz a escolha mais certa”.

E quem faria o que ele fez como ele fez? O Maurício, tal profissional do volante apontado como fadado aos azares, merecia muito mais e, com a dita paciência do “quem espera, sempre alcança”, mereceu a página daqueles nossos livros amarelados comprados em sebo. Rejeitem-se rótulos frio de “coadjuvante de luxo” em tempos de tricampeões ou de um “azarado” com dedo podre para equipes medianas sem dignidade para seu potencial.

O barco de Big Mo, esse navegador que vive entre florestas e verde puro na profissão que segue, está distante e silencioso demais de nós aqui em terra. Este escriba não cobra, apenas respira e respeita um pai de coração rasgado há tempo pela dor suprema e que, por escolha, desligou engenhos, pendurou capacete e balaclava e deixou sobre a mesa fotos, palavras desgastadas de revistas passadas e recordações de eterno tributo.

Ouvir suas histórias? Quem sabe um dia! Seriamos honrados ouvintes dos contos que um grande das pistas teria para compartilhar.

Mas vai no teu tempo de volta, Maurício! Por aqui, apenas recados de amigos e amigas que dizem: Maurício Gugelmin foi um grande!

Big Mo, segue navegando! Um dia, estaremos no porto te esperando!

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