Adelaide, Austrália. 7 de Novembro de 1993. Décima sexta e última etapa da temporada 1993 da Fórmula 1. As atenções estavam voltadas para a última corrida que Senna faria pela equipe que o consagrou definitivamente, a McLaren. Em um ano com altos e baixos, em meio a especulações de participar ou não de algumas corridas, o brasileiro talvez tenha feito a temporada mais notável de sua carreira. Partindo da única pole que conseguira naquele ano, um resultado positivo lhe daria o vice campeonato
As lembranças daquele ano ficaram cimentadas na memória dos fãs por conta dos grande duelos entre os grandes rivais, Senna e Prost, que já na primeira corrida tocaram roda e premeditavam novas batalhas que talvez pudessem lembrar o auge da rivalidade dos tempos de McLaren-Honda. As exibições de Senna em Interlagos e, principalmente, Donington são classificadas como os grandes momentos da carreira do tricampeão
Fui privilegiado com uma memória muito boa. Episódica, que se faça notar. Minha avó materna sabia de cor os números de telefone de todos os meus tios e endereço. Meu pai, aprendeu a ler e escrever só depois de adulto, mas mesmo assim não esquecia de nada.
Bendita herança. Se eu fechar os olhos e me concentrar bem, vou me lembrar de acordar com sono naquela madrugada de 7 de Novembro de 1993 para acompanhar, junto de meu irmão sentado na nossa sala de estar em frente a uma recém-comprada Philips a cor de 20 polegadas sem controle remoto à última corrida de Senna pela McLaren. Sim, era isso o que interessava. O campeonato já estava decidido e tudo se fazia em torno da expectativa do que viria pelo próximo ano…
Lembro de absolutamente tudo. Da meia luz da televisão, dos cheiros e cores de nossa casa, de como nossa estante estava posicionada, enfim.
Com o desenrolar da corrida fui me despedindo das cores que Senna consagrou na McLaren. Seria mesmo muito estranho vê-lo na Williams, de azul. Como de fato, infelizmente foi mais que estranho. A bandeirada dada com muito estilo por Glen Dix, o “Ayrton, Ayrton” de Galvão, o tema da vitória que era o anúncio de mais um triunfo…
Aí vem o pós-corrida, e eu sabendo que “Le professeur” era o inimigo, era alguém a ser odiado, graças às caricaturas que o Esporte Espetacular propiciou… Senna estende a mão para Prost… O nó na garganta. O fim das diferenças. Puxa ele pra cima do pódio, ergue a mão diante da torcida. Damon Hill assiste de camarote um momento histórico. Era o encerramento da maior rivalidade que o esporte já tinha visto.
Mal sabíamos que seria a última vez que os dois estariam num pódio. Era o fim de uma era…
Já se vão 30 anos.
O tempo é, de fato, relativo. Eu tenho a opinião firme e forte de que foi algo inventado só para ter noção de quando o sol se põe e nasce, e quantas vezes damos a volta em torno dele. Só. Todas a memórias, tudo o que vivenciamos que foi marcante está num lugar fixo. Imóvel, parado e com as mesmas coisas de sempre, imutável e abstrato.
Ainda hoje, ao rever as cenas daquela corrida, volto a me sentir criança. Volto a estar sentado na minha sala, o clarão do dia volta para aquela meia luz e volume baixo da TV e a quietude daquela madrugada entremeada com os sons daqueles v10 e v8 daqueles bons tempos.
Mas o tempo? O tempo trata de guardar as coisas como são. Aquela memória será sempre única. Senna estará lá, sempre abraçado ao arquirrival, naquele fim de capítulo de uma história para todo o sempre.