A foto em destaque é, talvez, do primeiro encontro da marca de energéticos mais popular do grid com o tradicional oval azul de Detroit: ainda na Sauber adornada pelos dísticos da Red Bull, a Ford partiu para a esquadra suíça com o melhor do seu equipamento no tradicional V8 depois de ser “convidada a se retirar” da colorida Benetton.
O C14 tinha cara invocada, uma pompa agressiva. Os desenrolares da nova aliança mostravam que poderia ser, afinal, o grande ano de Peter Sauber, sem dar mais lembranças no ar aos tempos que tinha a Mercedes como aliado. A dupla de pilotos também prometia: de volta para o futuro depois de se cruzarem no antigo WSC e no começo de 1994, Heinz-Harald Frentzen e Karl Wendlinger queriam queimar lenha, colocar o time, definitivamente, entre os primeiros.
Enfim, apenas promessas, aquelas corriqueiras de começo de temporada. Se era pra fazer mais, ficou no “normal” ou, até mesmo, decaiu no conceito. Frentzen salvou um pódio apenas, com o terceiro lugar em Monza, e pontuou razoavelmente. Wendlinger não conseguiu, de fato, se recuperar do baque de 1994 e passou zerado, sendo substituído por uma ainda inócuo Jean-Christophe Bouillon, piloto reserva e sem brilho.
A equipe insistiu na ideia em 1996, tendo Johnny Herbert, vindo da Benetton, no lugar de Wendlinger e, desta vez, atacando de V10. E, outra vez, um ano fraco e recheado de abandonos, com o melhor momento sendo um terceiro lugar do inglês no acidentadíssimo derby em Monte Carlo. No ano seguinte, o time suíço moveria suas investiduras no motor Ferrari de temporada anterior, rebatizado de Petronas (sim, a mesma petrolífera que, hoje, adorna a Mercedes).
Corte rápido para hoje: já faz algum tempo que não temos a companhia da Ford no grid, seja por ela mesma ou pelas intentonas da Cosworth, a marca lendária que abocanhou um sem-número de vitórias nos tempos românticos da categoria. O oval azul tem uma trajetória gigante e 176 vitórias no lombo que atestam tanto quanto qualquer quebra no tempo presente pode dizer. Eram tempos em que custo-benefício eram bem mais que lei, mas um binômio fiável e de retorno garantido para alguns.
Claro que o tempo trouxe algo bem mais moderno que aqueles engenhos, e sempre que a Ford tentava seguir o barco, ou escorregava feio ou fazia algo interessante. Sua renascença na F1 depois de algum tempo levou, por exemplo, Nelson Piquet a suas últimas vitórias e transformou Michael Schumacher num vencedor e, posteriormente, num campeão com seu Zetec-R, tudo isso na parceira Benetton.
Mas este implacável do tempo e seus avanços em outras casas colocaram a Ford num limbo duvidoso do “motor barato que serve pra qualquer principiante”. Quando esboçou um investimento maior, partindo da bem montada Stewart e tendo o verde da Jaguar como sua marca, o oval virou bagunça, não rendeu um momento de glória e acabou, pasme, nas mãos da Red Bull para montar a equipe vencedora que conhecemos.
E depois de virar peça adquirida por bagatela para bólidos e de desaparecer dos monopostos, eis que a mesma Red Bull – que estampou os capôs da Sauber e deu outra vida a combalida Jaguar – volta a se encontrar com a marca taurina da Áustria para uma parceria marcada para começar, de fato, em 2026, quando o novo regulamento trará mudanças profundas nos motores e mais gente interessada em vender engenhos no grid.
Claro que este anuncio tão antecipado quanto colocar a carruagem na frente dos cavalos chamou a atenção, ainda mais porque a Honda ainda está em casa, mas vez em quando dá seus pitis de querer sair, sobretudo quando está por cima da carne seca. Nesta feita, a ideia é começar cedo, mas trabalhar com duas fábricas de engenho deve dar aquelas esbarradas sentimentais vez em quando. E não seria surpresa a marca nipônica querer sair do barco o quanto antes, pelo menos em nome e apoio.
E ainda: o desafio da Red Bull é, ao menos construir uma parceria potente com o oval na busca para dar algo que a Ford não vê há tempos: fiabilidade de motor, potência, performance, desempenho condizente com uma equipe de ponta que se preze. E há tempo para isto se considerarmos que 2026 ainda não é logo ali, muito embora ainda nos entorte o nariz pensar que a Ford faça, de fato, o motor vencedor que a marca do energético espera.
Enfim, são elucubrações distantes e especulativas, mas para os puristas de outros tempos, ver a Ford voltando a categoria dá uma sensação animada de bons tempos, de motores com sons graves e agressivos que, se não eram potentes, ao menos enchiam os ouvidos e conquistavam suas vitórias vez em quando. Se elas vão se repetir com os austríacos, só mesmo 2026 dirá.
Enquanto isso, bora ouvir de novo aquele V8 de respeito feito pelo oval azul de Detroit: