Simples e direto: Bortoleto não é Senna

Então, um brasileiro no grid outra vez… Depois de tanta especulação, disse-me-disse, tendencias de negativa entre sinais positivos e a espera pela confirmação, eis que Gabriel Bortoleto está a caminho da F1.

Credenciado pelo ótimo campeonato na F1 (onde é o atual lider do campeonato), ele terá nas mãos o ambiente a deriva da Stake-Sauber em um contrato de três anos, com o primeiro período dividindo esquadra com Nico Hulkenberg, experiente e que sabe o que é ter um tupiniquim como teammate, além da chefia do duvidoso Matia Binotto.

Ok, motivo de celebração, não é? Tem um brasileiro no grid, vai dar motivo para muitos ligarem a TV e assistirem a F1 só por este motivo. E com a chegada de Bortoleto renovam, na mente dos mais incautos, a torcida para sermos campeões novamente, uma vez que para estes “não haverá ninguém como Senna”.

Sim, se você tem a mente como nós do G&M, comprou de imediato a ideia de que este terceiro paragrafo, além de um puro exagero pachequista, é também o reflexo de muitos incautos, seja de primeira viagem ou fãs da categoria até o DTS começar, que vão digerir a notícia desta forma: uma “esperança de viver aquilo que não viveram e só sabem por recordações e palavras de terceiros”.

Já tinha escrito algo nesse naipe quando Felipe Drugovich foi campeão da F2. A mesma maré ufanista enjoada já começou a disparar excessos e impropérios no primeiro teste do piloto na Aston Martin. Tantos foram que Drugo entrou numa fria geladeira da marca verde e, hoje, ganha a vida fazendo as suas no endurance, sobretudo no ELMS, talvez repensando as escolhas diante de uma F1, por vezes, congelada em pilotos e relações entre eles.

Então, o que vou escrever aqui pode soar violento e me tornar o “chato do rolê”: Bortoleto não é Senna e nunca será, da mesma forma que o garoto é um recém-chegado na categoria e logo naquela que, atualmente, é a pior equipe do grid. Qualquer cobrança desmedida e apelidos infames com as dificuldades de início serão a mais pura ignorância que faz parte da mentalidade “torcer para ganhar” do torcedor brasileiro.

O C44 é, hoje, o pior carro do grid. Espera-se lucidez e melhoras para a Sauber, da mesma forma se pede paciência com o trabalho inicial de Bortoletto em 2025

Bortoleto deve ter ciência de que o trabalho dele será hercúleo: não basta aprender os traquejos da F1 como também desempenhar satisfatoriamente bem em um time que ainda aguarda o aporte e know-how da Audi para sonhar com coisas melhores. Este ano, o carro é ruim, a dupla de pilotos tenta e não se ajuda e a postura de morta-viva no grid é deprimente, com tabua de pontos zerada e atuações discretas para ocultas.

Até pode ser o melhor cenário para estrear, isto num time que aparenta não ter pressa em remontar a casa com as quatro argolas vindouras (e que já carregam especulações de modificação no projeto original). Mas entre entender o cenário e compreender o movimento não é a melhor faculdade de muitos que tem contato com esta notícia e não entendem do metier do motorsport. Isso vai exigir tempo, paciência e consciência do mais importante para Bortoleto: aprendizado.

Infelizmente (e naturalmente), os impropérios dos entendidos de WhatsApp vão se multiplicar, na mesma moenda tradicional que diminuem os feitos de Rubens Barrichello a piadas infames ou que já podou as possibilidades de talentos como Christian Fittipaldi, isto ainda nos tempos difíceis de 1994. São dois exemplos além de tantos que já foram tostados ou esquecidos nas empreitadas fora do escopo da F1, apesar das provas incontestes que há vida fora da grelha da Liberty Media.

Ouvir isto incomoda, e vai incomodar ainda mais nestes tempos onde grande parte dos quem acompanham o G&M compreendem o momento e querem mais que Gabriel aculture-se com calma e atenção no ambiente em que está entrando. Resultados sendo registrados devem ser celebrados, posturas erráticas devem ser cobradas e avanços devem ser analisados e aplaudidos, tudo dentro da racionalidade que o atual estágio pede, e isso sem precisar ser jornalista especializado.

Mas não espere esta consciência. Logo logo vão começar as groselhas a granel, entre os tios do pavê e a geração DTS, imediatista e artificial em dadas avaliações. Tenho meus medos que tudo vai se repetir outra vez, mas espero estar errado redondamente e que possamos assistir uma evolução constante do menino Bortoleto nesta empreitada que, por si só, é histórica.

O que vier ao contrario, é bobagem e ufanismo frustrado. E isso não tolero e não toleramos. Calma com o Gabriel e vamos em frente.

1 comentário em “Simples e direto: Bortoleto não é Senna”

  1. Perfeito!
    Sejamos nós a diferença, o ponto de mudança no modo que tratamos nossos pilotos.
    Torcendo aqui para tudo dar certo e, em 2026, já vermos os primeiros pontos como equipe.

Deixe um comentário