Tifosi ladra, e os touros passam

Os meus piores temores desde a dupla vitória ferrarista no começo do ano estão se confirmando: Maranello está perdida nos seus erros e não consegue reagir. O tento tranquilo de Max Verstappen em Barcelona e a conquista surpreendente de Sergio Pérez no principado são só algumas provas sutis desta derrocada antecipada que tem levado a Red Bull a deitar e rolar na tradicional marca italiana.

E o que assusta é a falta de reação, algum sinal ao menos de que os vermelhos buscam enrijecer a disputa em algum momento. Não foi em Miami, parecia em Barcelona e se perdeu em Mônaco, uma letargia que aparece do nada, seja por falha técnica ou por pura incompetência, como foi em Monte Carlo. E ai, cai aquela filosofia ainda dolorida de que “quando você apela pra punições, você está tentando ser justo em cima da injustiça de sua falta de ação”.

(GettyImages)

Dentro do cockpit, não poderia ser mais justificável a irritação de Charles Leclerc no erro dos boxes. O monegasco, novamente largando na frente, perdeu a chance de virar a mesa em casa, diante de seus “poucos” semelhantes, e ainda assistiu sem o menor esforço de torcer contra a tentativa da equipe de reverter o resultado com uma punição que não houve. Mina a confiança do principal piloto e de Carlos Sainz, que ainda está tentando se livrar da bendita má sorte que o persegue.

Alias, Sainz foi um dos “encrenqueiros” do qualify de sábado, se juntando a Checo na escapada do mexicano que praticamente encerrou os treinos. Seriam eles as estrelas do dia seguinte, numa briga já meio mandrake, onde ninguém iria assumir riscos nas ruas estreitas e ainda úmidas de Mônaco e que, sem reação maior, viu Perez embolsar a terceira vitória da carreira, conquistada com certa justiça e vinda na hora certa: o mexicano estará na equipe dos touros até 2024, mantendo a eficiência como segundo pilotos de ponta.

A próxima parada é Baku, aquela pista onde tudo pode acontecer e que, dependendo das puxadas de orelha fora da pista, pode ser, enfim, a virada de mesa da Ferrari. Não há mais desculpas nem momentos para um cafezinho, ou Maranello reage ou correrá o risco de ver, impotente, o espetáculo dos touros com constância até o fim do ano, com brilharecos lá e cá.

Em uma frase:

– Fez-se tanto burburinho as modificações da Aston Martin, mas tanto barulho pareceu para nada. Um ponto em duas corridas, e este conquistado por Sebastian Vettel, não significou muita coisa. O carro ainda é ruim

– A Haas já começa a mostrar a falta de fôlego sem atualizações, em grande parte pela falta de dinheiro o caixa. Pra piorar, Mick Schumacher (outra vez) deixou um prejuízo enorme nas contas da equipe, com outro chassi destruído em Monte Carlo, e de forma muito estranha.

– A aparente melhora da Mercedes em Barcelona virou fumaça em Mônaco. Pistas quase perfeitas fazem um pouquinho bem ao W13, que viu George Russell levar um terceiro e estender suas passagens no top-5 por mais um fim de semana. Já Lewis Hamilton, nem se fala…

Russell segue nos top-5 da vida. Mas melhoria da Mercedes na Espanha está longe de ser a necessária (GettyImages)

– Em contraponto, quem sorri de orelha a orelha é Valtteri Bottas. O finlandês anda dando algumas indiretas (e presentinhos para Hamilton) ao revelar para quem queira que vive um ótimo momento na Alfa Romeo. A marca do trevo pode não ter o carro mais competitivo, mas o trabalho deste ano já paga quase o período inteiro do time desde muito tempo. Tomara que surpresas venham ao seu caminho, faz bem ouvir isto.

– Perez renovou com a Red Bull, o que é muito justo pelos bons serviços do mexicano na equipe e um aviso a Pierre Gasly. A AlphaTauri é um dos maiores embustes do ano, com poucas atuações de brilho. O francês tem que começar a se mexer para o futuro: o conglomerado já deu seu aviso.

– E segundo Douglas Sardo, o transporte coletivo de Blumenau “será operado pela Alpine”. Sem performance em Monte Carlo, Fernando Alonso foi o ônibus do fim de semana, mesmo chegando em sétimo. Já se fala em fim do ciclo do espanhol na equipe e a abertura de portas para Oscar Piastri. Será?

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