Sabe aquele tiozão de hoje, com a vida ganha, dinheiro em caixa e querendo mais, um vasto vocabulário chulo na boca e o inconformismo com o mundo em mudança apoiado no discurso patético de um presidente ou de um momento? Cara, nesse mundo tá cheio, e o pior é quando quem tanto se bate palma acaba se mostrando um pária irremediável que não percebeu que seu estoque de groselha o fez parecer insignificante.
Desde os anos 1980, qualquer cidadão que acompanhava a F1 era acostumado com as falas malcriadas de Nelson Piquet, e talvez tratasse isso como um jeitão diferenciado, um eterno limão avesso a imprensa, um milionário dono de bens materiais que seu dinheiro podia comprar e fruto do trabalho competente e, as vezes, “malandro” na pista. Tão eficiente foi que a carreira desenvolvida lhe rendeu, em 204 GPs, 23 vitórias e três títulos mundiais.
Números e trabalho em pista condizentes com quem fez da velocidade sua profissão. Mas, como todo tiozão que cresceu na misoginia dos termos e na chuleza de ações, o velho Nelsão de passados 60 anos virou exatamente isto, o “tiozão da groselha”, o empresário bem sucedido que não se torce pro mundo que muda a sua volta, vive com a mente estacionada num pensamento arcaico e que não precisa mudar para manter a sabedoria, responde com dinheiro e risos debochados as mudanças de pensamento do mundo.
O “neguinho” disparado contra Lewis Hamilton é prova disso. Excluindo-se os usos específicos (a maior intimidade, como é com os cariocas, por exemplo, e o Neguinho da Beija-Flor, que o adquiriu pela vida), o termo é pejorativo, faz parte deste arcadismo que deixa a mostra o racismo estrutural tão negado pela sociedade atual e que o diminui a qualidade de “não foi nada” em cada acontecimento. O tiozão não tá preocupado com a repreenda social, e tampouco Piquet: quem vai se preocupar com comportamentos intoleráveis com carrões e prestígios nas estantes?
Doi, mas é o pensamento de Nelson o mesmo de muitos outros tiozões da groselha espalhados pelas esquinas do Brasil e do mundo, mas sobretudo no nosso caso, tão normatizado pelos comportamentos de seres ditos “superiores”, para não citar aqui o habitante da capital federal como único exemplo. Pessoas apáticas, alheias a seriedade de um pensamento novo e presas ao arcadismo. Gente que justifica seus comportamentos com o dinheiro na conta e as experiências de vida, aquelas que nada trazem para uma mente vazia de reais aprendizados.
Piquet aprendeu a ser grande piloto, acertador de carros e campeão com méritos nas disputas que entrou. Só não teve tempo de desenvolver aquilo que, na pista, é tão preciso quanto na vida fora dela: inteligência. Dessa, o tiozão da groselha carece para não ser um pária mergulhado na lógica atrasada do racismo em que se encontra…
Não anula os feitos, mas destrói com o respeito, ainda mais segundo o que penso sobre Nelson, o tiozão… triste.