Que o título de campeão mundial da temporada 2025 de MotoGp para Marc Marquez era questão de tempo já era sabido desde a metade do ano, a julgar pela performance dominadora do piloto da Desmosedici GP25. Até o momento deste texto (décima sétima de vinte e duas etapas), ele soma incríveis onze vitórias, sendo em dez vezes o vencedor da Sprint, o que possibilitou fechar o campeonato com a antecedência de cinco corridas, dada a vantagem sobre o segundo colocado até o momento, seu irmão Alex Marquez (Gresini Ducati GP24).
Ao longo da temporada, Marquez dominou com facilidade e esteve exibindo traços até então desconhecidos de sua forma de pilotagem: soube muitas vezes administrar a vantagem técnica que tinha, por dispor de um equipamento muito mais competitivo que em tempos idos e não se observou o piloto agressivo e destemido destas outras épocas, onde era costumeiro vê-lo tentar compensar uma desvantagem com manobras arriscadas e movimentos que o seu corpo ainda não tão machucado pudesse permitir.
O espaço compreendido entre sua queda em Jerez 2020 e a glória de Motegi em 2025 deixou um vazio a ser entendido sobre os possíveis cenários e números a serem adicionados ao seu já impressionante currículo. Ele agora está a um título de empatar com o maior vencedor da categoria máxima, Giacomo Agostini.
Quando Marquez aceitou abrir mão do seu vantajoso contrato com a Honda e aceitou correr pela equipe satélite Gresini, com uma moto defasada em uma ano, ficava evidente sua intenção de voltar a ser competitivo, o que a máquina japonesa, que vinha sofrendo em pior performance por não ter conseguido acompanhar a imensa evolução das europeias Ducati, Aprilia e KTM.
O ano de 2024 foi impressionante. A GP23 era cerca de oito décimos mais lenta que as oficiais, mas mesmo assim ele conseguiu um terceiro lugar com três vitórias ao longo da temporada, e estando muito à frente dos demais pilotos que dispunham do mesmo equipamento. Tal performance garantiu a ele o ingresso à equipe oficial, estando ainda cercado de polêmicas pelo fato de a Ducati preterir o prometido Jorge Martin, mas a julgar pelo seu 2025 e pela forma como ele dominou o campeonato, há que se dizer que a aposta do mago Gigi dall’Igna, engenheiro responsável pela GP25 e que bancou a contratação de Marc, estava mais que acertada.

Nas duas semanas que antecederam a confirmação de seu título, ele ainda viveu o icônico momento de emular o gesto de Lionel Messi: o meia argentino estendeu sua camisa do Barcelona no clássico contra o Real Madrid, em pleno campo adversário. Em meio ao clima sisudo proporcionado por parte dos torcedores italianos, que ainda ressentem a celeuma com Rossi e principalmente pela sua queda no dia anterior, na Sprint vencida por Bezzechi, ele resolveu repetir o mesmo gesto: sacou o macacão e o exibiu à torcida, fazendo a imagem correr o mundo e se impor como quem estivesse cobrando o merecido respeito. Isso vai de encontro ainda com as vaias recebidas por ele em Mugello que inclusive foram reprovadas pelo diretor esportivo da Ducati, o italiano Davide Tardozzi, ex-piloto.

Marquez provou a todos que, mais que ser um grande piloto, ele transformou-se num grande exemplo. Contra tudo o que pudesse lhe contrariar de seus objetivos, foi lá e se superou. A sua imagem com lágrimas escorrendo no rosto ao ver no telão sua trajetória relembrando o intenso calvário que passou passa uma poderosa mensagem de superação, dedicação e sacrifício, algo como que ele finalmente se dando conta que ele estava se vingando da roda de sua Honda que caprichosa e cruelmente lhe atingiu o braço, quebrando-o e impedindo a sequência de títulos, vitórias e glórias iniciada dez anos antes.
Quatro cirurgias, complicações, braço direito com o úmero rotacionado a 30º, infecções, incontáveis sessões de fisioterapias executadas inclusive em sua própria casa (o fisioterapeuta mudou-se para sua residência), incertezas… foi necessário a ele suplantar. Foi necessário vencer na pista e na vida.