Guerra Civil à vista na MotoGP?

Itália e Espanha protagonizam há muito tempo o mundial de MotoGP. O lado italiano tem em Valentino Rossi seu maior expoente na história recente. Valentino colocou a categoria em um outro patamar de popularidade desde sua estreia, ainda nas 125cc em 1996. O país, que tem ainda o maior vencedor (Agostini, com seus 15 títulos), também marca presença com as montadoras Aprilia e Ducati. Esta última inclusive, tem há tempos a moto mais competitiva da categoria, e hoje conta com 4 equipes, uma oficial de fábrica e mais três equipes satélites (Pramac, que corre com as motos do ano vigente, VR46 de Valentino Rossi e a Gresini, com motos 1 ano defasadas).

A Espanha manteve sua tradição de muitas décadas com pilotos competindo nas categorias de acesso até conseguir seu primeiro título mundial na principal somente quando a categoria já tinha passado de meio século (1999, com Alex Crivillé, na Honda). Uma geração de ótimos e talentosos pilotos se seguiu até que Jorge Lorenzo e Marc Marquez aumentaram exponencialmente a quantidade de títulos, fazendo com que o mundo da categoria ficasse cada vez mais voltado para o país, que chegou a ter quatro gps disputados na temporada, tamanha a popularidade.

Se é verdade que a Itália tem muita tradição e montadoras no ápice, a Espanha possui há muito tempo os melhores campeonatos, de todas as classes e regionais, para onde muitos italianos (e pilotos do mundo todo) se debandam em busca de aperfeiçoamento e formação de carreira. Muitos deles já declararam a preferência pelos campeonatos espanhóis justamente por serem os de maior demanda técnica.

O espetacular duelo em Jerez: pouca pista pra muita vontade dos dois
A difícil decisão da Ducati: quem será o companheiro do bicampeão Bagnaia (esq.)?

O “crash” entre Marquez e Bagnaia no último GP de Portugal pode ter sido o estopim para o barril de pólvora que estava para explodir desde que o espanhol anunciou sua ida para a marca italiana. Seguiu-se o embate em Jerez, com os dois disputando a prova até a ultima curva e também a ultrapassagem de Marquez em Le Mans.

É sabido que os ânimos entre espanhóis e italianos estão acirrados há tempos, e após o entrevero entre Rossi e Marquez em Sepang 2015, uma guerra fria vem sendo travada. Detalhes desta permanente tensão são percebidos em detalhes.

Soma-se a este cenário as definições sobre quem será o companheiro do bicampeão Bagnaia para o ano que vem. Marquez declarou preferência por uma equipe de fábrica, sinalizando que sua opção seria para a equipe oficial (onde corre Bagnaia), porém Martin demonstra clara insatisfação por ter sido preterido ainda em 2022, quando a esquadra italiana preferiu uma solução caseira (e justa à época): Enea Bastianini, que venceu 3 provas com a equipe atual de Marquez.

Bagnaia obviamente prefere a permanência de Enea, devido à proximidade com o compatriota e à tranquilidade que esse cenário proporcionaria. Gigi Dall’Igna, o mago por trás da máquina vencedora, já declarou que vai optar esportivamente. A Ducati, que outrora vivia lutando para conseguir taças, agora se dá ao luxo de poder escolher, e todas as opções são ótimas, mesmo que em meio à guerra.

Volta longa (atualizado após gp da Catalunha, 26/05/2024):

  • A Ducati havia anunciado que decidiria a dupla da equipe oficial na semana do Gp da Itália (31/05 a 02/06), mas já demonstra não ter ainda certeza do que quer.
  • Especulações nas imprensas européias indicam que o caminho para a Ducati seria disponibilizar uma moto de fábrica para Marquez, mantendo-o na Gresini, ou mesmo encaminhando o octacampeão na Pramac, promovendo assim Martin para a equipe principal;
  • Com isso, abre-se o caminho para Bastianini voltar à Gresini ou mesmo juntar forças com a Aprilia, que quer um italiano.
  • Bagnaia demonstra certa inquietação com relação ao que ocorre em seu redor. Erros como o da Sprint de sábado precisam parar de acontecer. Ao mesmo tempo, no dia seguinte ele rumou para uma vitória sóbria e firme.
  • Vale lembrar que nada ainda está decidido e, pegando um termo que tem sido usado há muito tempo principalmente na F1, em que acordos e contratos existem para serem desfeitos, vale lembrar que a KTM pode ainda pensar em algo diferente para o ano que vem: a recente especulação de demover Brad Binder para a GasGas pode ser um código ou um aceno para Marquez, que inclusive é atleta Red Bull…
  • A Yamaha quer ainda uma equipe satélite. A VR46, de Valentino Rossi, quer continuar com as Ducatis para o ano que vem, mesmo com a proximidade do nove vezes campeão com a marca japonesa. A Pramac receberia as M1 com estrutura técnica e dinheiro para a operação, mas o impasse entre a decisão da Ducati e a possibilidade de ter Marquez pode estar embaralhando a cabeça da equipe satélite 
  • Quartararo já deu entrevista dizendo que a chegada de técnicos (da Ducati) foram cruciais para sua permanência
Ducati confirmou na manhã de 04/06/2024: o oito vezes campeão mundial se junta a Bagnaia na equipe oficial de fábrica a partir de 2025

Atualizado (04/06):

  • A Ducati confirmou a contratação de Marquez para a equipe oficial, com contrato de dois anos. Conforme dito por dall’Igna, a equipe terá pela primeira vez um time dos sonhos: moto no ápice de desenvolvimento e dois pilotos multi-campeões. Resta saber se a guerra citada acima será ainda mais acirrada: Marquez é conhecido por suplantar companheiros de equipe (derrotou Pedrosa entre 2013 e 2018 sem dificuldades e praticamente aposentou Lorenzo, apesar das lesões deste), somando-se ainda o fato de que Marquez tem trânsito livre e bom relacionamento com Paolo Ciabatti e o próprio dall’Igna, além de falar italiano…
  • Enquanto isso, Martin tratou de assinar prontamente com a Aprilia, muito provavelmente seguindo conselhos do grande amigo Aleix Espargaró, que sai ao final deste ano e deixou a RS-GP muito alinhada. A julgar pela raiva que Martin deve estar sentindo, não podemos esperar nada melhor do que o piloto ainda mais motivado.

Mas Bagnaia já mostrou suas garras em Jerez… A ver. Quem ganha com isso? Nós!

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