O pentacampeão mundial de Motogp Jorge Lorenzo teve uma formação quase militar. Seu pai, Jose Manuel “Chicho” Lorenzo é o famoso dono de uma escola de pilotos em Palma de Mallorca. Por ser filho do dono da escola e principal professor, foi cobrado de forma severa ainda nas minibikes. Isso pode explicar um pouco de sua constante sisudez e forte personalidade.
Sua preparação para se tornar um piloto de competição foi feita apressada e intensamente. Uma prova disso é que para sua estreia no mundial das 125cc em 2002, precisou abdicar do primeiro treino por ainda não ter completado quinze anos de idade. Vigésimo primeiro colocado em seu ano de estreia. No ano seguinte, já conseguia sua primeira vitória, no Gp do Rio de Janeiro. Em sua despedida da classe menor em 2004, mais três vitórias e o quarto colocado na classificação geral.

Na sua chegada à classe intermediária, se depara com o grande domínio de seu compatriota Dani Pedrosa. Um primeiro ano regular mas sem vitórias pavimenta os dois anos de imenso sucesso: dois troféus de campeão, batendo Andrea Dovizioso em 2006 e 2007 com direito a recorde de vitórias para um piloto espanhol nas 250cc – dezesseis, uma a mais que o próprio Pedrosa e Sito Pons.
Consegue o contrato junto à equipe principal da Yamaha para seu ano de estreia na MotoGp, para ser companheiro de Valentino Rossi. Um começo avassalador: nas primeiras três etapas consegue pole position e pódio, com vitória na terceira prova, em Estoril. Com um grave acidente nos treinos para a quarta prova em Xangai, vê seu rendimento cair e não consegue mais vencer e finaliza o ano em quarto, vendo o companheiro Rossi sagrar-se campeão pela oitava vez. No ano seguinte, já com mais consistência, fecha o ano como vice de Rossi, com quatro vitórias e o duelo da Catalunha como recado ao badalado companheiro.

No ano seguinte, ainda que a contusão e afastamento de Rossi por metade da temporada por conta da fratura sofrida em Mugello tenha sido crucial para o andamento do campeonato, a consistência e os bons resultados do início do ano davam a entender que finalmente o título viria. E assim foi, derrotando Pedrosa pela grande margem de 138 pontos (novo recorde até então), acumulando ao longo do ano nove vitórias e dezesseis pódios em dezoito etapas.
Para 2011, com a ida de Valentino para a Ducati, ele se viu mais à vontade dentro da Yamaha, mas não foi páreo para o bom entrosamento de Stoner com a Honda RC211V. A queda nos treinos livres de Phillip Island ainda lhe custaram uma parte da falange do dedo anelar da mão.
Em 2012 mostrou uma forma consistente e levou novamente o título, superando Pedrosa. Com o anúncio do retorno de Rossi à Yamaha, imaginou-se que as tensões dentro da garagem azul seriam inevitáveis, a ponto de na entrevista do anúncio do retorno os jornalistas terem perguntado a Rossi se haveria novamente a instalação do muro (solicitado por Rossi quando da primeira experiência dos dois como companheiros).
O duelo daquele ano foi mais cadenciado e esparso. Diretamente com Rossi não houveram problemas, pois o italiano vinha se readaptando e só foi vencer em Assen, sétima etapa daquela temporada, Justamente nesta etapa, Lorenzo sofreu uma queda nos treinos de quinta-feira, quebrando a clavícula. Quando todos esperavam que ele se ausentaria da prova, ele surpreendeu a todos voando naquela tarde mesmo de emergência para um hospital em Barcelona para operar o osso quebrado, na tentativa de disputar aquela prova. Não só disputou como pontuou, com um excelente quinto lugar.

Ao longo do ano, mesmo com esse grande sacrifício, não conseguiu se sobressair na disputa com Marc Marquez, que venceu na sua temporada de estreia na categoria rainha. No ano seguinte, foi derrotado por Rossi na classificação geral, ficando uma posição abaixo dele, com o terceiro lugar. Mas diante da grande temporada de Marquez, que venceu as dez primeiras provas daquele ano, pouco havia a se fazer.
2015 foi certamente o ano mais destacado de sua carreira. Diante de um inspirado Rossi, que parecia disposto a encerrar o jejum de títulos que perdurava desde 2009, Lorenzo foi marcando o companheiro de equipe até a etapa final, para conquistar o campeonato. Claro que esta é a mesma temporada da polêmica envolvendo Rossi e Marquez, que se estranharam e se acusaram ao longo do ano, tendo o ápice da discussão no acidente de Sepang. Lorenzo chegou a fazer um sinal de “negativo” com o polegar no pódio daquela prova, desaprovando a terceira colocação de Rossi, que àquela altura ainda não tinha sido punido e perdido as posições para a prova seguinte, que foram determinantes para a perda do título.


Os anos finais de Lorenzo na categoria foram de altos e baixos. Sua contratação pela Ducati, um ano após ser novamente derrotado por Rossi (2016, em novo título de Marquez) foi um ponto alto na carreira, pois ele passaria ali a ser o piloto mais bem pago do grid, numa tentativa da marca italiana finalmente vencer novamente o campeonato. Uma temporada de difícil adaptação, com apenas três pódios seguiu-se de uma temporada mais promissora no ano seguinte, com três vitórias, mas também com quedas e lesões que o levaram a desistir do projeto. Quedas e lesões que se repetiram continuamente no ano seguinte, quando já defendia as cores da Repsol Honda ao lado de Marquez. Uma forte queda em Assen o levou a considerar a aposentadoria no final daquele ano, fato que se concretizou por, segundo ele mesmo, ter tomado a decisão de “se manter vivo” antes que fosse tarde, dada a complexidade de domar a temperamental moto ajustada por Marc.

Lorenzo, ao longo da carreira, passou a ser relegado à uma imagem de prepotência e arrogância. Seu foco exacerbado na carreira e em resultados podem ter endurecido sua imagem. Ele não angariava uma legião de fãs como Rossi e nem despertava admiração imediata como Marquez. Era sempre focado em si mesmo e permaneceu numa espécie de limbo, alheio à bajulação das torcidas inflamadas e expondo sempre que possível seu egocentrismo, o que fez surgir uma antipatia que beirava o ódio, principalmente dos fãs sempre acalorados de Valentino…
O paralelo traçado aqui com Alain Prost é raso, mas irritantemente preciso: Prost foi genial, calculista, eficiente e vitorioso. Mas tem sua imagem eternamente ligada à do seu maior rival, sendo constantemente preterido nos corações dos fãs. Não é preciso ir muito longe para comparar Rossi como o Senna de Lorenzo…
Seu nome está eternizado nos registros do campeonato mundial: foram cinco títulos mundiais, sendo três na categoria principal, com os méritos de ter derrotado Rossi e ser um excelente acertador de motos, com uma tocada suave e técnica. Ainda que pareça ter deixado a impressão que era possível aumentar seus números, sua carreira está sacramentada como uma das mais vitoriosas da história do motociclismo.