Toprak on the Top

Nascido na cidade praiana de Alanya, costa sul da Turquia, Toprak Razgatlıoğlu, campeão mundial de Superbike da temporada 2021 com Yamaha, está no centro de uma discussão recente sobre talento e oportunidade no mundo das duas rodas.

Filho do dublê e piloto de motocross Arif Razgatlıoğlu, conhecido como”Tek Teker Arif” (“Wheelie Arif”), começou sua carreira na Red Bull MotoGP Rookies Cup aos 17 anos, tendo competido nos anos de 2013 e 2014, conseguindo ali sua primeira vitória em Sachsenring, no segundo ano e terminando o campeonato em sexto.

Junto do pai, ainda criança: Perda do grande incentivador foi lembrada em 2021 pelo piloto.

Sem muitas oportunidades para ingressar na categoria rainha. rumou ao campeonato de Superbikes ainda em 2014, na categoria Superstock 600. Pilotando a Kawasaki ZX-6R, venceu logo na estréia em Magny-Cours, e no ano seguinte sagrou-se campeão europeu.

No circuito da Superbike, pôde chegar num ambiente propício aos turcos: seu compatriota Kenan Sofuoglu sagrou-se pentacampeão do Mundial de Supersport 600 entre os anos 2012 a 2017, com a Kawasaki.

Neste mesmo período um duro golpe: o pai, grande incentivador morre em um acidente. Aí entra Kenan Sofuoglu. O pentacampeão surge como um conselheiro e auxilia o tímido Toprak, treinando-o e aconselhando pelo paddock.

A oportunidade na categoria principal surgiu através da equipe de seu país, a Turkish Puccetti Kawasaki. Após três anos no europeu de Superstock, correu com a ZX-10R a partir de 2018, tendo vencido pela primeira vez na temporada seguinte, não tinha chances contra as equipes principais de fábrica. Formou a trinca da Kawasaki na etapa de Suzuka, na tradicional prova de Endurance de 8 horas daquele mesmo ano com Jonathan Rea e Leon Haslam, mas não participou da prova. Houveram discussões sobre o setup da moto, mas Toprak ficou obviamente desapontado por não ter podido correr. Esse desdém pode tê-lo decidido a rumar para a Yamaha (R1), que era uma moto desacreditada e sem muita performance frente às Kawasaki e Ducati. Sua adaptação foi rápida e conseguiu um quarto lugar no campeonato de 2020.

Estreando na WSBK: Kawasaki ZR-10R

O ano seguinte reservaria o grande trunfo de sua carreira até aqui: Conseguiu interromper o reinado de Jonathan Rea, que durava desde 2015, ao conseguir ser campeão mundial, o primeiro turco a fazê-lo numa categoria principal do motociclismo mundial. Foi uma batalha intensa, empatados em vitórias com o dominante Rea, o título veio na última etapa, no Gp da Indonésia. Era também o primeiro título da Yamaha desde 2009, quando triunfaram com Ben Spies.

Can Oncü e Sofuoglu comemoram: primeiro título veio com a Yamaha R1 em 2021

Sem deixar de lutar com o incrível equipamento das Panigale V4 e Alvaro Bautista, foi vice nos dois anos seguintes, até surpreender todo o paddock com o anúncio de sua transferência para a equipe principal da BMW (M1000RR)

Seus primeiros testes foram promissores, mas ninguém imaginaria no início deste ano de 2024 que Toprak estaria praticamente dominando o campeonato. Até o momento (Julho de 2024), ele está com dez vitórias consecutivas, a duas vitórias de ter o recorde de sempre e liderando o campeonato com uma moto improvável. Obviamente que o desenvolvimento se deu com força pelos investimentos vindos da fábrica alemã, que ainda persegue um título de relevância nas duas rodas, mas ao se analisar onde estão seus pares que pilotam o mesmo modelo, nota-se que a sua aplicação e talento têm sido o fator principal nesta situação.

O turco em ação em 2024, na BMW M1000R: rápida adaptação e perto do recorde de vitórias consecutivas

Tudo isso fez com que o nome de Toprak fosse proposto (novamente) em uma das equipes para o mundial de MotoGp. Houveram testes entre 2022 e 2023, sem dados maiores revelados, mas o que se expõe aqui é: o fato de o turco estar dominando na Superbike e sem ainda ter tido a oportunidade de correr na categoria principal sugere uma discussão. O que se sabe é que entre Motogp e Superbike há uma diferença muito grande em abordagem. Superbikes estão para os carros como GT3 preparados para correr, enquanto as Motogp são, de fato a Fórmula 1 das duas rodas.

Toprak demonstra um estilo agressivo e extremo. Para buscar o máximo de performance, especializou-se na técnica de frenagem que utiliza ao máximo o deslocamento feito pelo peso da moto a partir do freio dianteiro. Não raro, é quase certo que haverá sempre um “stoppie” (roda de trás levantada levemente) a cada frenagem mais forte. Recentemente, na etapa de Misano, foi possível ver o desgaste extremo em sua bota, uma vez que ele utilizou o pé demasiadamente para auxiliar as frenagens.

Toprak abusa dos “stoppies”: estilo extremo tem sido uma atração na categoria

É sabido porém que a Motogp, enquanto esteve sob a administração da Dorna, buscou dar oportunidades e acolher pilotos de vários países, fazendo uso dos campeonatos regionais, da Red Bull Rookies Cup e demais torneios para, obviamente, expor o produto a um mercado crescente. Observa-se por exemplo quantos pilotos do sudeste asiático correram na última década, sem contar que desde a década de 1990, os mesmos países sediam grandes prêmios. Seria uma boa chance de dar vez à Turquia?

A BMW está fortemente cotada a entrar na Motogp a partir de 2027, quando a nova regra de motorização (850cc) e especificações técnicas entrarão em vigor. Foi anunciado que Toprak cumprirá seu contrato com a equipe de Superbike de dois anos, a vencer no final do ano que vem. Até lá, muita coisa pode acontecer.

A ver!

 

 

 

 

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