De Böllinger Höfe para o museu, onde as reverencias são eternas. 17 anos, depois, a Audi anunciou o fim da produção do popular, invocado e carismático R8, um dos supercarros mais comentários e acessíveis a uma parcela de endinheirados que não tinham cacife para Ferrari e McLaren mas queriam sentir o prazer de domar um bólido a altas velocidades.
Desenho ousado mas simples, empurrado por um V10 com o selo de qualidade das quatro argolas e desenvolvido pelo lado esportivo da marca – a Audi Sport – o R8 teve fãs pelo mundo afora, e muitos mais do que muito carro do mesmo porte, talvez facilitado pela acessibilidade financeira que trazia consigo. Um novo era bem mais “barato”, democratizando a adrenalina sobre rodas com a velha verve de uma das legendas do Grupo Volkswagen.
Com os atributos que tinha, naturalmente, iria cair nas pistas do mundo. A Audi Sport, nos períodos de glória de outrora, viu muitos deles faturarem grandes provas e estarem presentes – quase sempre, na parte da frente – de grids recheados de rivais como as compatriotas BMW e Mercedes, além de Lamborghini, Ferrari, McLaren e por ai afora.
Não sendo eu tão versado (ainda) em GT e Protótipos, talvez o R8 passaria batido por mim e mereceria a reverencia por ser um grande carro tanto no asfalto quanto na pista. Mas bastou assumir o microfone das narrativas do GT Open no canal A Mil Por Hora para fazer a correlação e perceber que a marca dele é bem maior: o supercarro da Audi tem parte na minha vida profissional.
Ainda narrador raso nesse expediente, lá fomos nós acompanhar o certame de sangue ibérico correndo as pistas da Europa em pegas que alternavam entre a emoção e o entretenimento. E lá estava ele, o R8 reluzente na mão de alguns no grid com maior volume de estrelas de três pontas e cavalinhos rampantes do que quatro argolas. Só que quis o destino (e a competência dos responsáveis) que ficasse com ele o primeiro titulo da categoria que tive prazer de contar a história.
Os grandes pegas do ano tiveram dois personagens indeléveis: Simon Reicher e Christopher Hasse. O R8 branco-e-vermelho da Eastalent foi a estrela maior da temporada 2024 no GT Open, e as provas onde Hasse-Reicher se metiam eram um espetáculo a parte. Até mesmo naquelas que a vitória não vinha, a certeza era uma: aquele carro ia escalar o pelotão frenética e espetacularmente.
Não raro, a procura na pista entre os concorrentes dos fins de semana começava pelo bólido da Eastalent. Piscava o olho e lá vinha ou Hasse ou Reicher. Em bem verdade, o momento aguardado era quando Christopher estava no volante, e o que o garoto aprontava no volante, nas situações mais adversas até mesmo cavadas pelo companheiro de volante, era de encher os olhos.
Podia se colocar na conta que um Mercedes ou Ferrari estivessem mais a frente em técnica e conceito, mas nada bate um piloto invocado quando encontra um equipamento fiável mesmo quando este não parece tão atual quanto. E lá vinha Hasse “esmerilhando”, como costumava dizer. Baixava tempos alucinado, usava tudo da pista, aparecia já com a ultrapassagem na mente e passava sem cerimônia, movimentos de fração de segundo.
A emoção colocada na voz era justificável quando aquele R8 aparecia em tela. Não havia limite na tocada, e a passagem era em um golpe apenas, sem chance de reação. Rasgar elogios era pouco, continua sendo, afinal o entretenimento do esporte a motor é, por vezes, esquecido em nome do status, dinheiro e dessa turma que mal conhece um volante e quatro rodas. Quando algo extraordinário assim aparece, é de inspirar-se, abrir a caixa dos bordões e rechear de enaltecimentos merecidos.
Quis que fosse um R8 que Hasse e Reicher fizessem a graça e saíssem campeões. Não dá pra cravar se será a última conquista do esportivo alemão uma vez que ele poderá ser usado até 2030. No entanto, história já tem nas rodas e outras mais ainda podem vir nos cantos onde ele é usado, coisa que é corriqueira dada a competência de Ingolstadt no motorsport, que vem de longe.
Certo é que não sei aonde esta mania de ser narrador esportivo de automobilismo pode chegar e nem sei se é para tanto a pretensão, mas sem dúvida a visão de um R8 vai me lembrar de dias onde o aprender a domar e explodir a emoção pura do esporte na voz foram únicos e valiosos, quase como uma nota especial em meu currículo.
Um Audi R8, o Audi R8 da Eastalent, onde estiver, sempre é garantia de emoção no asfalto. E lá, empresto minha voz.